A proposta básica desse trabalho é personificar uma importante entidade do panteão religioso afrobrasileiro, a Pombagira, que pode também ser compreendida como a face feminina de Exu.
Assentando-a num corpo de uma mulher negra, dentro de um box esvaziado da Feira de São Joaquim, local de fluxo de mercadorias e de pessoas, a personagem ganha gestualidade e atitudes própria de um ritual.
Nessa referida Feira, predominantemente negra e historicamente marginalizada pelo poder público, devido ao racismo estrutural, é que se dá uma intrincada rede de trocas econômicas e simbólicas em Salvador-BA, cidade com o maior contingente negro fora continente africano.
Esse local foi escolhido também por estar associado arquetipicamente a um dos lugares onde transitam os exus: as feiras e os mercados populares.
Além disso, a Feira de São Joaquim possui diversas lojas que vendem insumos, que vão de ervas a objetos ritualísticos, para as atividades desenvolvidas nos cultos de matriz afrobrasileira, como a umbanda e o candomblé. A própria imagem física que representa essa entidade é exposta e comercializada em diversas dessas casas dispostas pelos corredores da feira.
A narrativa extrapola o universo religioso e incorpora outras questões como raça, gênero e classe. Assim, exalta as complexidades do ser/existir que estão para além dessa visão de mundo colonialista cristã, redutora e dicotômica, e nos apresenta uma trama repleta de possibilidades assim como as encruzilhadas.
Lebará – Feminina Força é uma experimentação visual híbrida, que transita entre o documento e a fantasia, entre a fotografia e a performance. Um ensaio fotográfico com potência poética e política sobre o sagrado e o feminino na sociedade contemporânea.