Há alguns anos venho investigando como as projeções de imagens afetam as configurações de um corpo no espaço. Durante certo tempo minha atenção visual estava orientada em reconhecer as luzes e sombras, as formas, as existências reais dos objetos na superfície da imagem fotográfica. Pensei ter obtido mais erros que acertos nas fotografias. Visito essas imagens com frequência porque, de certa forma, elas me atravessam.
Também passam por dentro e por fora de mim algumas reflexões específicas sobre esse fazer que envolve tantas etapas de produção: idealizar uma arte generativa organizando seus códigos, definindo suas formas, seus movimentos e tempo para projetá-la sobre o corpo de uma pessoa convidada a se movimentar numa performance, nas sombras, em um estúdio fotográfico.
Ao ver nas imagens uma área profunda de preto, dada pela pouca luz disponível no espaço, me dei conta da presença de algumas coisas que me interessavam muito discutir e que de uma forma mais ou menos explícita estavam permeando meus pensamentos e meu corpo durante essa pesquisa. Abria-se um portal para reconhecer que o universo inteiro estava ali em uma cintilância antes não vislumbrada e agora visualmente destacada.
A cor predominante deveria ser o preto porque a sombra é conhecimento, e não segue o padrão luminoso da razão moderna. Nesta série aqui apresentada, cada imagem é um convite visual ao fragmento e ao todo; ao inseguro desconhecido e à garantia da finitude; à entrega a uma aventura e aos perigos da ventania tal qual um organismo que vivo ou morto funciona tanto pelo conjunto quanto pela independência. Uma metamorfose acontece em mim e nas imagens. Uma transfiguração da matéria através do esgarçamento da luz, do tempo e do movimento.