O presente ensaio traz uma série de imagens capturadas entre as estradas que interligam os estados do Piauí e Maranhão. Em cada imagem, diferentes aspectos da vida rural e urbana são evidenciados. Com a estrada fazendo as vezes de elo entre todos esses personagens — personagens da vida real, vale ressaltar. O uso deliberado do preto e branco serve para intensificar o drama vivido por cada um – assim como a dimensão atemporal – de lugares onde o tempo insiste em não querer passar.
Outro ato deliberado foi a opção de realizar as imagens de dentro do carro – quase sempre em movimento. Fotografar de dentro do carro oferece uma perspectiva única, tanto literal quanto metaforicamente. Literalmente, cria-se um quadro dentro do quadro, uma janela que se move através do mundo estático ao redor, onde a analogia com o caráter transitório da vida faz-se presente.
Metaforicamente, fotografar a partir dessa perspectiva, resume a experiência da vida moderna, onde observamos e nos movemos através do mundo frequentemente de dentro de nossas próprias bolhas – sejam elas físicas, sociais ou psicológicas.
Assim, este ensaio fotográfico, enquanto representação da transitoriedade e encapsulamento dessa vida moderna, possui a pretensão de provocar uma reflexão acerca da complexidade que emerge quando transitamos do ver ao interpretar. Num processo em que confrontarmos o que a nossa visão nos traz e as dimensões metafórica e literal que se afloram, acabamos por reconhecer as imagens não apenas como fotografias, e sim como signos.