“Saímos de Natal rumo à Trinidade de barco e chegamos na Amazônia pelo mar. Depois de nove dias velejando, decidimos parar na Guyana Francesa para reabastecer, onde vimos que nesse período o Coronavirus tinha se alastrado muito e levado os países à fecharem suas fronteiras.
Buscamos abrigo no rio Maroni. Nesse rio de águas turvas se encontram águas doce e salgada, em um fluxo que segue o sobe e desce das marés. Vinda de um longo período morando na Bahia, só consigo enxergar um encontro potente entre Yemanjá e Oxum nessas águas. No entanto, ele é também a fronteira entre a Guyana Francesa e o Suriname, é alvo da exploração do ouro por mineradores clandestinos e de sua poluição pelo mercúrio, é depósito para todo lixo imaginável que passa flutuando ao lado do barco.
Decidimos explorar alguns igarapés que se comunicam entre si e nos permitiram passar 11 dias isolados em um ambiente mais preservado da ação predatória do homem. Essa série fotográfica foi desenvolvida durante essa viagem, um momento de introspecção e grande admiração em meio à uma mata virgem e pulsante, um momento de contato com as “entidades” do rio e da floresta que parecem se refugiar no final de cada furo.”
Juliana Nakatani, Saint Laurent du Maroni, 09.2020.