A série fotográfica “Sangria” busca proporcionar uma reflexão acerca da objetificação do corpo feminino, colocando-o em paralelo a um pedaço de carne a ser servido e consumido. A visão machista reforçada na sociedade constantemente coloca a mulher sob uma posição de serviço, sempre à disposição para ser usada e para saciar os desejos carnais, emocionais e sociais do homem, com ou sem seu consentimento. Assim, a partir da contraposição do corpo, da carne e do prato – elemento que reforça a ação de servir – propõe-se um questionamento de todas as expectativas que consomem a mulher, na busca de alcançá-las, tanto sexual, como socialmente.
Com base em um olhar mais estético, destaca-se que as fotografias criam uma falsa simetria, o que provoca um sutil desequilíbrio em algo que, visto desatentamente, aparenta ser ordenado. Com isso, procura-se reforçar as contradições e problemáticas do sistema em que vivemos, o qual tenta aparentar ser muito funcional, equilibrado e inabalável, mas suas entranhas evidenciam seu sadismo, sua injustiça e sua crueldade a quem o analisa de perto. Além disso, a opção pelo preto e branco, com uma evidência maior ao aspecto carnal e sangrento dada no título “Sangria”, visa abstrair e esconder o vermelho desses elementos, trazendo uma falsa sutileza às imagens, as quais carregam um grave histórico de violência sofrida incessantemente pelas mulheres. Histórico esse, que sofreu um grande apagamento e é, diariamente, invalidado e amenizado, assim como a remoção da cor suaviza o aspecto encarniçado das imagens. Dessa forma, a série almeja trazer várias camadas diferentes de como o machismo consome nosso corpo, nossa carne, nossas energias, nossa humanidade, tal qual um animal selvagem devora um prato de carne.
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