Feriado de 1o de maio de 2024, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. A chuva não para, deslizamentos de terra, pessoas desaparecidas, Porto Alegre alagando. Via os lugares que frequentava tomados pela água, os museus, os cinemas, as praças, os restaurantes, as lojas, percebia que uma parte das minhas lembranças estava embaixo das águas turvas de esgoto e de enchente. Um sentimento tomou conta de mim, uma parte da minha história havia morrido.
Em 2023 consegui trabalhar o luto pela morte de meu pai. Bordei seu casaco de gala, ele era fuzileiro naval. Foram meses costurando lembranças. Quando as águas baixaram, revelaram a real destruição da cidade, estava novamente em luto. A forma que encontrei de registrar o meu pesar foi sair às ruas vestindo o casaco de meu pai, ele havia me ensinado a não ter medo da água, agora a água havia levado uma parte de mim. Dor imensa de ver o apagamento da memória de uma cidade que não existe mais.