Algumas comunidades tradicionais mexicanas têm o costume de realizar um ritual de “fechamento de corpo” de mães que acabam de dar à luz. O ambiente uterino é reproduzido e o corpo é aquecido, de maneira a acolher e fortalecer a mulher para se recuperar da gestação e do parto. Essa prática terapêutica apresenta ótimos resultados.
Monique Olive registrou esse ritual na Imagem Destacada “Local Seguro”, uma das finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024. Formada em biologia e morando em Nepomuceno (MG), Monique Olive transformou a paixão pela fotografia em profissão a partir de 2015. Tem na fotografia de família sua principal fonte de trabalho comercial e desenvolve paralelamente trabalhos autorais em torno da maternidade e da ancestralidade.
Conheça o perfil da fotógrafa na entrevista abaixo.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 40 anos, vivo e trabalho atualmente no município de Nepomuceno, na região sul de Minas Gerais.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Eu fotografo desde 2008, quando comprei minha primeira câmera com meu primeiro salário enquanto bióloga recém-formada e recém contratada por uma empresa multinacional. Apesar de sempre ter sido apaixonada por fotografia, foi nesta época que consegui aprimorar a técnica fotográfica como hobby, registrando a minha família, famílias próximas e viagens. Em 2015, resolvi fazer transição de carreira e comecei na fotografia profissional registrando partos. Hoje, tenho a fotografia de família como foco comercial, sempre partindo das experiências maternas e femininas.
No âmbito dos trabalhos fotográficos artísticos, autorais e fotojornalísticos, comecei a desenvolver processos de investigação visual a partir da minha maternidade, abordando a necessidade de reconexões com a minha ancestralidade e com questões que atravessam a minha existência.
Tenho a fotografia como um meio para ampliar vozes, estórias e histórias que merecem ser contadas, com o objetivo de valorizar mulheres, mães e suas experiências de vida.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Sempre tive muita facilidade em estabelecer uma relação fluida com rituais.
Os considero momentos importantes de auto-observação, autocuidado, autoconhecimento e grandes impulsionadores para resolução de problemas e atingimento de objetivos.
Em 2019, enquanto ainda fotografava partos, comecei a fazer parte de um coletivo de mulheres que cuidavam de outras mulheres, não só no parto, mas na preparação para o nascimento e no puerpério imediato. Comecei a conhecer um novo mundo de fortalecimento de mulheres, conduzido por mulheres e dando suporte às novas mães, recém paridas. Presenciei mulheres realizando seus sonhos de engravidar, encontrando paz nas questões relacionadas à fertilidade e aceitação de seus corpos e realidades dentro desta rede de apoio terapêutico.
O trabalho da foto “Local Seguro” faz parte do ensaio Cerimônia Pós Parto, que vem sendo parte de um trabalho maior que fala sobre rituais femininos. A cena em questão trata-se de uma prática chamada “fechamento do corpo”, onde o ambiente uterino é reproduzido, o corpo é aquecido e a mulher tem a oportunidade de se acolher, se fortalecer e se reencontrar consigo. É um dos momentos mais importantes de todo o processo terapêutico, praticado pelas comunidades tradicionais mexicanas, para fortalecer mulheres que se tornam mães.
Os resultados são incríveis, aumentando a confiança da mulher no maternar, no processo de amamentação, fortalecendo o vínculo com o bebê, ajudando o corpo a se recuperar da gestação e do parto, podendo ainda evitar ansiedade, depressão e outras doenças mentais que se intensificam no puerpério.
Atualmente, a cerimônia é difundida por parteiras tradicionais em todo o mundo, que aprendem com mulheres mexicanas e latinas dispostas a ensinar a prática.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Sou autora do livro Ânima e criadora da Revista MOM, ambas produções voltadas para mulheres e fotógrafas mães. Além disso sou a atual presidente da AlfaAgency Photo, uma agência de fotógrafos profissionais que busca mais valorização e exposição de seus trabalhos em diversas áreas da fotografia, sob a diretoria e mentoria de Roberta Tavares e que me dá suporte para desenvolvimento de projetos e aprimoramento da minha investigação visual.
Tenho trabalhado em quatro projetos importantes em 2024.
No curto prazo:
Projeto Escrevivências, que trabalha a escuta ativa da comunidade afrodescendente de Nepomuceno/MG, aplicando conceitos desenvolvidos pela escritora mineira Conceição Evaristo e aprovado e financiado pela Lei Paulo Gustavo no município;
Projeto Templo Caboclo Sete Flechas: um braço do projeto Escrevivências que foi também aprovado e Financiado pela Lei Paulo Gustavo no município para produzir um curta documentário sobre a presença da Umbanda na comunidade como manifestação religiosa afro-brasileira;
No longo prazo:
Projeto Matriarcas dos Campos de Café, que busca investigar a atuação da mulher no cultivo do café e na qualificação do grão dentro de toda a cadeia produtiva de uma das bebidas mais consumidas do mundo;
Projeto Rituais Femininos: que busca retratar mulheres em processos ritualísticos religiosos e/ou terapêuticos, com foco em seu fortalecimento e autonomia.