A favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), é uma das maiores do mundo. Sua representação nos meios de comunicação está quase sempre relacionada com mazelas e carregada de preconceito. Como contraponto a esse tipo de abordagem hegemônica, Daniela Vignoli produz uma série de imagens da Rocinha sobre a qual aplica bordados que transformam. As fotografias em P&B recebem interferências de linhas coloridas, que dialogam com os elementos da cena.
O Ensaio “Bordando a Rocinha – Sobrepondo realidades” é um dos finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024. Daniela Vignoli também atua na Rocinha como empreendedora social, por meio do projeto Nós do Crochê, que já impactou a vida de mais de 200 mulheres moradoras da comunidade.
Conheça mais sobre sua atuação na entrevista abaixo.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 55 anos, vivo e trabalho no Rio de Janeiro.
Sou artista visual e empreendedora Social. Trabalho como idealizadora e coordenadora de um projeto de capacitação artesanal para mulheres em situação de vulnerabilidade social.
Me divido atuando com o social na arte e na vida.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Moro em frente a maior favela do Brasil, o que me motivou a começar um movimento de transformação e união de morro e asfalto. Tenho um grupo com mais de 100 mulheres que doam mensalmente cestas básicas para moradores mais necessitados da Rocinha e fundei o Nós do Crochê, Projeto Social que já impactou a vida de mais de 200 mulheres moradoras da comunidade. Foi a partir daí que começou meu interesse pela fotografia. Além de ajudar, eu precisava enaltecer, valorizar, dar voz e beleza àquelas pessoas da comunidade.
Comecei a fotografa-las e o social transcendeu o assistencialismo e a capacitação, se transformando em arte!
A fotografia entrou na minha vida como a expressão maior da minha alma. É como se fosse uma escuta através do olhar.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Meu trabalho sobreposição de realidades foi realizado na comunidade da Rocinha, segunda maior favela da America Latina, conhecida nas mídias pela violência do tráfico e da milícia, pobreza e abandono pelo estado.
Minha proposta é fazer um contraponto, mostrando que há beleza mesmo na tristeza, há riqueza, mesmo na pobreza. Que enquanto houver um sorriso, uma criança brincando, pode haver esperança. O mundo está repleto de tragédias, guerras, mazelas. Só isso aparece nas mídias virando nosso alimento diário. Precisamos acreditar que podemos transformar nosso entorno, começando pelo olhar interno.
Eu fotografo almas, e através do bordado vou suturando frente e verso. Em um processo em que cada ponto é um caminho novo de possibilidades. Com os bordados, minha fotografia deixa de ser apenas a representação fiel de uma realidade obviamente dura, mas a transformação de uma sociedade, direcionando nosso olhar e nossos desejos.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Meu trabalho sempre carrega a fotografia como suporte, mas a interferência é transitória. Comecei uma série sobre a Índia, país de minha paixão e onde encontro o refúgio para minha alma. São registros de mulheres e sua espiritualidade. Nesta nova serie dou continuidade aos bordados, mas acrescentei tecidos e outros atravessamentos para potencializar o que desejo transmitir.
A Rocinha também se mantem sempre presente. Lugar onde atuo há mais de 8 anos com vários projetos sociais.