A dança surgiu muito cedo na vida de Ana Nicolau. Desde muito pequena ela se interessava pela dança e pelos palcos e com 11 anos começou a estudar a dança flamenca, na qual se profissionalizou aos 27 anos de idade. Após o nascimento de sua filha, ela entendeu que bailar Flamenco não era o suficiente e decidiu atuar registrando a experiência de outras bailarinas, suas performances e suas histórias de vida.
Foi quando a fotografia entrou na vida de Ana Nicolau. Com a imagem “Através”, ela é uma das finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024. A foto é um registro do espetáculo Flamenco Pop, da bailaora Ale Kalaf apresentado em dezembro de 2023 no Teatro Itália, em São Paulo. Por conhecer profundamente a dança, Ana Nicolau sabe captar momentos chave das apresentações e nesse caso em particular foi muito feliz ao registrar o exato momento em que o baile se mescla à luz.
Na entrevista abaixo, ela conta mais sobre sua trajetória e seus projetos, descubra.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 42 anos, vivo em São Paulo (capital). Sou autônoma e meu trabalho é principalmente com fotografia de dança flamenca
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Desde muito pequena me interessei pelos palcos e pela dança, diz minha mãe que com 3 anos eu já pedia para me apresentar. Foi aí então que iniciei meus estudos na dança. Aos 11 anos comecei também a estudar a dança flamenca e aos 27 me profissionalizei. Foram anos dançando em companhias de dança e dando aulas.
Quando minha filha nasceu, em 2017, eu tinha 35 anos e já não sabia se bailar Flamenco era o suficiente para mim. Foi então que conversando com os outros sobre minhas dúvidas escutei que meu olho brilhava muito ao falar do Flamenco, que eu não podia abandoná-lo, que deveria haver uma outra maneira de trabalhar com esta arte.
Foi quando decidi estudar fotografia, algo que sempre gostei, e mais especificamente: fotografia de espetáculo. Em parte porque tendo fotógrafos na família eu era influenciada e em parte porque, quando estava no palco, os fotógrafos não captavam o Flamenco que eu amava em mim.
Sendo uma bailarina de dança flamenca e estando ainda em atividade, entendo que minha fotografia carregue, além da técnica da fotografia, a técnica da dança, me permitindo entender os momentos de mais destaque no baile.
Portanto, a fotografia expressa também o meu baile, mesmo que através de outra bailarina, e completa algo tão inerente ao meu ser que é o Flamenco.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
A fotografia “Através” foi tirada no espetáculo Flamenco Pop da bailaora Ale Kalaf apresentado em dezembro de 2023 no Teatro Itália, em São Paulo. Este espetáculo trouxe aos palcos a fusão do flamenco e da música pop e por consequência uma estética de luz extremamente trabalhada e figurinos fora dos padrões da estética flamenca.
Naquele momento do baile, a bailaora estava atravessando feixes de luz. Seus movimentos cortaram a luz, fazendo que esta se tornasse parte de sua movimentação.
A minha produção fotográfica visa o movimento: do corpo, da expressão facial e dos acontecimentos durante um baile. Dessa maneira, essa foto representa este exato momento, em que o baile se mescla à luz.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente sigo trabalhando registrando o Flamenco no Estado de São Paulo e anseio que este meu trabalho possa ajudar a alavancar esta arte que é minha profissão e que também faz parte do meu dia a dia, ajudando assim o Flamenco brasileiro colocando-o em destaque e também registrando sua história.
Além de fotografar os espetáculos e também fazer ensaios de bailarinas flamencas e dessa maneira registrar o empoderamento dessas mulheres, tenho alguns projetos pessoais que envolvem a fotografia e o baile flamenco.
O primeiro deles é uma exposição fotográfica que demonstra, através das fotos que tirei de flamencas em casa e no palco, o caminho do empoderamento dessas mulheres que, através do Flamenco, mostram a todos que uma mulher que baila é uma mulher que enfrenta os obstáculos que a vida lhe impõe.
Ainda nesta linha feminista, tenho como projeto um livro que demonstre que a mulher no palco não é uma bailarina de corpo de baile e sim é o seu próprio baile, carregado de sua história, que muitas vezes traz a escolha por viver após sobreviver a 5 episódios de câncer ou a viver através do Flamenco após um puerpério desafiador ou a se desafiar através do Flamenco após descobrir que tem TDH.
E por último, tenho como objetivo a pesquisa teórica da história do Flamenco com base na história da fotografia.
São projetos que me instigam a estar sempre ativa, curiosa e ligada a essas mulheres.