Descendente de uma família mulçumana e libanesa nascido na zona leste de São Paulo (SP), Gihad Arabi descobriu na fotografia uma ferramenta para sair da inércia e questionar preconceitos e desinformações. Seu trabalho está centrado no ativismo, atuando de forma independente, ele já viajou por diversos países para desenvolver ações sociais que transformam vidas, inclusive a dele próprio.
Em uma dessas viagens, no deserto do Saara, no Marrocos, ele realizou um expressivo retrato de uma mulher, intitulado “Resistência”, que está entre os finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024 na categoria Imagem Destacada.
Descubra mais sobre sua produção autoral na entrevista abaixo.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 34 anos e não possuo residência fixa. Alterno entre trabalhos em São Paulo e viagens.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
A fotografia mudou minha vida.
Nasci no Brasil, extremo leste da cidade de São Paulo e sou descendente de uma família muçulmana e libanesa que desde o início da minha vida me transmitiu valores, princípios e crenças de gerações que vieram antes de mim.
Percorri diversos caminhos. Cursei administração, educação física, abri alguns negócios e explorei uma infinidade de atividades até perceber que o sentido da vida pode não estar naquilo que me ensinaram como “correto”.
Em 2017/18, aos 27 anos, resolvi mudar de vida, me desfiz da empresa que possuía na época e tive meu primeiro contato com a fotografia em um curso para iniciantes. Desde então, eu que sempre tive dificuldades para lidar com meus sentimentos, comecei com a câmera na mão um intenso processo de autoconhecimento e expressão.
Hoje a fotografia na minha vida, além de ser uma ferramenta de expressão, é também um poderoso instrumento de comunicação e ativismo.
É com ela que encontro forças para sair da inércia e questionar às incoerências e injustiças que ocorrem diariamente à nossa volta.
Desde que comecei a fotografar, me conectei com muitas pessoas boas e consegui de forma independente viajar para diversos países e desenvolver trabalhos sociais que impactam positivamente a vida de muitas pessoas (inclusive a minha).
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
A foto enviada foi produzida em 2022, no Deserto do Saara/Marrocos, numa comunidade de nômades muçulmanos, em uma expedição de 40 dias que fiz pelo país. Essa expedição é parte de uma série que tem como objetivo trazer visibilidade para realidades que são frequentemente esquecidas e subjugadas pela cultura ocidental e sofrem consequências ainda hoje decorrentes de uma forte colonização.
Minha família apesar de ser libanesa, tem origem no Egito, país africano, árabe e muçulmano.
Meu avô nasceu em uma família muito pobre e veio para o Brasil para fugir das consequências de uma colonização francesa.
Hoje um dos meus grandes objetivos como artista/fotógrafo, além de questionar a sociedade ocidental/colonialista como um todo, é também desmistificar questões da cultura árabe e a religião islâmica que atualmente sofrem diversos tipos de preconceitos e violências, como vemos na Palestina.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Continuo trabalhando focado nesse projeto que citei acima.
As cores da existência (nome que dei ao projeto) é um projeto fotográfico documental que tem como objetivo a expansão da consciência social através de histórias e realidades de pessoas que ocupam os mais diversos lugares no mundo e são frequentemente esquecidas por uma cultura capitalista/ocidental.
Me conecto com pessoas e ONGs que exercem importantes atividades pelo mundo, arrecado de maneira independente os recursos necessários e registro através de fotos, vídeos e textos todo trabalho que é feito e as pessoas que estão envolvidas.
Meu próximo passo é ir até o Líbano, me juntar ao trabalho com pessoas que estão em situação de refúgio e registrar o que está ocorrendo lá no momento com tantas guerras acontecendo em volta.
Estou trabalhando para conseguir o dinheiro necessário e aguardando definições na situação do país que está à beira de um conflito com Israel.