Para Gisele Martins, a fotografia é uma forma de registrar um pedaço de suas memórias e está relacionada ao desejo de permanência e transcendência. Talvez por não ter um forte senso de pertencimento, ela se define como uma fotógrafa viajante.
Desde 2004, Gisele Martins registra as chamadas missas inculturadas, realizadas em igrejas católicas com elementos de cultura africana. Com imagens realizadas na Paróquia Nossa Senhora Achiropita e na Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, ambas na capital paulista, ela compôs o Portfólio intitulado “Território Ancestral”, um dos finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024.
Na entrevista que segue, Gisele Martins conta um pouco sobre seu trabalho. Descubra.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 57 anos e vivo em São Paulo.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Comecei a fotografar no final dos anos 90. Sou economista e minha atividade profissional não era a fotografia. Parei de trabalhar no mundo corporativo no final de 2019 e passei a fotografar em tempo integral.
Sou uma fotógrafa viajante, talvez pela ausência de um forte senso de pertencimento. Fotografar acaba sendo um pretexto para viver experiências extraordinárias e gratificantes e de me aproximar de pessoas que vivem em outra realidade, seja territorial, social, profissional, etc. Mesmo em São Paulo, cidade onde eu vivo há quase 40 anos, eu saio do meu espaço à procura de novas descobertas e novas interações. Busco uma experiência de vida mais plural.
Gosto de contar histórias através da fotografia. Fotografar é registrar um pedaço das minhas memórias, e a memória está relacionada ao desejo de permanência e transcendência. É uma forma de marcar a minha presença no mundo e mostrar como eu o vejo e o interpreto.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Em 2004, participei do projeto “Povos de São Paulo – uma centena de olhares sobre a cidade antropofágica”, idealizado pelo Iatã Cannabrava. O grupo do qual fiz parte, liderado pelo Egberto Nogueira, era sobre cultos, crenças e misticismos na cidade de São Paulo. Fotografei missas inculturadas afro na Paróquia Nossa Senhora Achiropita, no Bixiga. Esse foi o tema da minha primeira exposição individual no ano seguinte, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, com curadoria do Diógenes Moura. Depois retomei a temática do catolicismo afro-brasileiro, fotografando missas e manifestações de catolicismo popular na Zona Leste de São Paulo, especialmente na Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França. Ainda hoje frequento e fotografo essas celebrações. São belíssimas cerimônias de fé, comunhão, música e ritmo, que fazem parte da história de luta do povo negro e celebram sua cultura, dentro da igreja católica. Sempre gostei de registrar a cultura e o modo de vida das pessoas.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Estou fotografando Santana do Cariri, Ceará, terra de Benigna, uma menina que foi vítima de feminicídio aos 13 anos, em 1941, e beatificada pela Igreja Católica em 2022.