As imagens desta série foram capturadas durante as vibrantes e tradicionais celebrações do Maranhão. Utilizando a flexibilidade da fotografia digital, optei por técnicas de baixa velocidade de obturação e dupla exposição, complementadas ocasionalmente pelo uso do flash para realçar nuances específicas de luz e movimento. Essas técnicas criaram um diálogo visual com as festividades, onde a energia dinâmica dos participantes e a explosão de cores se fundem em uma dança contínua e efervescente.
Cada fotografia foi cuidadosamente composta para transcender a simples documentação das festas maranhenses, buscando capturar a essência e a emoção do momento, fazendo com que o fugaz se torne permanente. A baixa velocidade de obturação permitiu registrar o fluxo de movimentos, resultando em imagens que evocam a vertigem e a euforia presentes nas danças e rituais tradicionais. A dupla exposição possibilitou a sobreposição de cenas, criando composições oníricas que transportam o espectador para um universo onde a realidade se funde com a fantasia. O uso seletivo do flash iluminou detalhes específicos, destacando texturas e cores que poderiam se perder na velocidade do movimento.
Minha abordagem fotográfica é profundamente moldada pela forma como percebo o mundo. A miopia faz com que minha visão da realidade seja naturalmente desfocada. Longe de ser uma limitação, considero essa condição uma janela através da qual enxergo e interpreto as nuances da vida ao meu redor. Essa perspectiva me leva a evitar a busca por imagens digitais de foco extremo e cristalinas, preferindo explorar um estilo mais orgânico e menos asséptico. Além da visão míope, as fotografias foram feitas sob a emoção que tambores, matracas e pandeirões causam em qualquer ludovicense que os escutem. Com a máquina na mão, sob a vertigem das batidas, me esquivei da nitidez e clareza fugindo da documentação convencional e da fotografia etnográfica, capturando a essência efêmera do movimento, as cores das celebrações e a emoção que evoca.
Nessas fotografias, movimento e cor são elementos essenciais, de modo a capturar o que de vibrante e caótico as festas do Maranhão possuem, como eu as sinto e experimento intimamente.
As técnicas fotográficas utilizadas são uma extensão natural dessa visão pessoal. Elas me permitem criar imagens que são menos sobre a precisão factual e mais sobre os sentimentos e memórias. Algumas imagens trazem detalhes que se destacam em meio ao turbilhão, pois também busco fugir da mera abstração, ao mostrar que, mesmo dentro do caos, há elementos de ordem e beleza que merecem ser vistos com atenção, notadamente elementos humanos. Estas fotografias são uma celebração da vida em seu estado mais dinâmico e colorido, uma homenagem à beleza das festas do Maranhão. Cada imagem é um fragmento de uma dança perpétua, uma ode visual ao movimento e à cor, a lembrança de um momento de repleto de emoção.
Com este trabalho, desejo mostrar que, às vezes, é na imperfeição e na falta de nitidez que encontramos as formas mais profundas de beleza e verdade e as festas do Maranhão, com sua riqueza cultural e exuberância visual, oferecem um cenário ideal para essa abordagem. Seja no carnaval, seja nas festas juninas, as brincadeiras são expressão de uma forte cultura afro- brasileira, sendo uma poderosa representação dos movimentos de afirmação e resistência da cultura negra, um legado que entrelaça elementos africanos e europeus, criando danças únicas e cativantes.
Aqui se faz um testemunho da vitalidade cultural do Maranhão, uma lembrança perene de que nossa identidade é formada pela fusão de raízes diversas, reafirmando que o tambor de crioula, o Bumba-meu-boi, os blocos tradicionais e tudo o mais são tesouros preciosos que resistem ao tempo, um canto da alma brasileira que ecoa além das fronteiras e perpetua-se no coração de todos que têm a honra de conhecer o estado.