Sou cinéfilo desde que me conheço por gente. Nasci ao lado de um cinema de rua e, aos 7 anos, presenciei a sua demolição a marretadas, o que me incrustou marcas que carrego até hoje. A partir dessa visão cotidiana do passado, passei então a acompanhar a desertificação das salas de cinema da minha cidade.
Rio de Janeiro, 2019.
Restam poucos cinemas de rua. No Centro, os últimos sobreviventes agora exibem espetáculos pornográficos e shows de strip-tease. Os espaços, outrora majestosos cinemas, se transformaram em locais insalubres. Com o intuito de fotografar a belíssima arquitetura art deco de um deles, acabei me adentrando num espaço totalmente degradado e dominado por uma intensa atmosfera sexual. Com sentimentos que oscilavam do desejo ao medo, passei a frequentá-lo semanalmente durante todo o ano de 2019. Clandestinamente ia fazendo registros tanto da arquitetura quanto do ambiente, num contexto em que o anonimato, a penumbra, a solidão e a atmosfera sexual elevam a psique humana a níveis extremos.