São Paulo, com toda a sua complexidade e dinamismo, é também um mosaico cultural marcado pela presença de imigrantes que, ao longo do tempo, ajudaram a construir a identidade da cidade. Entre essas comunidades, a boliviana ocupa um papel central. Com uma população estimada em mais de 100 mil pessoas, sua contribuição para setores como a indústria têxtil, a culinária e as manifestações culturais é inegável. No entanto, essa presença nem sempre vem acompanhada de visibilidade ou reconhecimento.
Meu primeiro contato mais profundo com a comunidade boliviana se deu por meio da dança caporales, uma manifestação cultural vibrante que, mais do que um espetáculo visual, é uma expressão de resistência e pertencimento. A partir desse ponto, percebi que minha câmera poderia ser mais do que um instrumento de registro: ela poderia se tornar uma ponte. A fotografia me ofereceu a possibilidade de enxergar – e mostrar – aquilo que muitas vezes passa despercebido aos olhos da maioria.
Há mais de doze anos, venho me dedicando a um trabalho de imersão dentro da comunidade boliviana em São Paulo. Meu olhar, inicialmente curioso, foi sendo transformado pela convivência, pela empatia e pela escuta. Não me coloco como porta-voz, mas como alguém que observa com respeito e aprende a cada história compartilhada. Sei que não posso sentir com exatidão o que é viver longe da terra natal, enfrentar a discriminação ou lidar com estereótipos que reduzem uma cultura inteira a papéis específicos. Mas posso, com sensibilidade e compromisso, tentar traduzir essas vivências em imagens e palavras.
Mais do que costureiros – função com a qual frequentemente são associados –, os bolivianos que conheci são também médicos, advogados, artistas, dentistas, estilistas. São pessoas que desafiam diariamente os rótulos impostos e constroem trajetórias marcadas por luta, criatividade e coragem. Acredito que dar visibilidade a essas histórias é um ato político e necessário, uma forma de romper silêncios e ampliar o olhar sobre o que é, de fato, ser imigrante em uma cidade como São Paulo.
Este trabalho não é apenas sobre a comunidade boliviana. É também sobre mim, sobre a transformação que viver essa experiência me proporcionou. É sobre aprender a olhar com mais profundidade, mais afeto e mais humanidade. É um convite para que todos nós, como sociedade, deixemos de ver o outro como estrangeiro e passemos a enxergá-lo como parte essencial da nossa própria história.
As imagens que compõem este trabalho são registros das celebrações realizadas ao longo do ano pela comunidade boliviana em São Paulo. Entre elas, destaca-se a Festa da Independência da Bolívia, comemorada em 6 de agosto, considerada a mais importante e aguardada. Para esse momento, a comunidade se mobiliza durante meses, com ensaios de bandas e grupos de danças folclóricas que ocupam ruas e praças da cidade. Os trajes típicos, cuidadosamente trazidos da Bolívia, conferem um brilho e um colorido diferenciado em meio cotidiano paulistano, reafirmando a presença viva e pulsante dessa cultura no coração da metrópole.

Um dos muitos pontos de venda, na feira de Alasitas, para obter as miniaturas e fazer os pedido ao EKEKO


Guerras de agua e espuma são uma tradição.


A festa de indepencia da Bolivia sempre começa com uma procissão

Os trajes folcloricos são trazidos da bolivia para o grande dia da festa de Independencia da Bolivia






O dançarino que representa um lutador


Os pais bolivianos ensinam seus filhos, nascidos no Brasil, a não esquecer sua raizes