“Mangueiras é uma comunidade de coragem”, ouvi essas palavras de Noemi, liderança do local, no primeiro dia que cheguei naquele território, sentada aos pés da mangueira centenária, em frente à ruína da casa de seus antepassados. Coragem é um substantivo feminino, que de acordo com a definição do Wikipedia « é a capacidade de agir apesar do medo, do temor e da intimidação. Deve-se notar que coragem não significa a ausência do medo, e sim a ação apesar deste. »
A Comunidade Quilombola de Mangueiras, sem dúvida, é um território fundado por exemplos de coragem, que pulsa e vibra em cada um de seus 620 habitantes, desde Sr Luís Antônio de Souza (um de seus fundadores) até os dias atuais, como as histórias vividas nas famílias de Seu Gercindo, Thamires Paola e Dona Albélia, bravura herdada dos ancestrais que fugiram das fazendas onde eram escravizados.
Considerado o quilombo mãe, a maior comunidade quilombola de Salvaterra, no Marajó, Pará, ainda não é titulada, possui apenas certificação de território quilombola emitida pela Fundação Palmares desde 2001. Apresenta uma grande diversidade cultural, religiosa ( católicos, evangélicos e umbandistas), as principais ocupações da população são a pesca artesanal e a agricultura familiar, como o cultivo de mandioca e a feitura artesanal de farinha. Do rio, extrai-se também a argila, que modelada pelas mãos de Naldo, dão origem a imagens santas, que encantam por sua beleza singela.
Estar em Mangueiras é também testemunhar o quanto de bons afetos habitam aquele lugar. Ubuntum é a filosofia que permeiam as relações, dessa maneira a solidariedade, a cooperação, o respeito, o acolhimento, a generosidade, estão presentes de forma marcante em cada uma das pessoas que tive a oportunidade de conhecer, percebi o quanto estavam, apesar de tantas dificuldades, em sintonia com sua alma, com o bem estar uns dos outros.
Trago um recorte de 8 imagens, realizadas em setembro de 2021, durante uma imersão, e buscam contar um pouco das belas histórias desse lugar.