Enquanto perambulava pela cidade, meu olhar foi atraído pelo vermelho intenso das lanternas dos carros, das motos, das superfícies metálicas, texturas urbanas que se misturavam aos corpos humanos. Detalhes como o ventre de uma mulher, a folha de uma espada de São Jorge, as águas sujas a escoarem no canal ao lado do meio-fio fisgavam meu olhar.
Senti como se houvesse ali a vibração de algo ancestral. Neste ensaio, proponho um olhar para o microcosmo invisível das ruas — onde o sagrado se revela entre as frestas do concreto, nos reflexos vermelhos, nos detalhes que normalmente escapam à pressa do dia a dia. O caos urbano torna- se espaço sagrado, encontro entre a cidade e o ritual, o trânsito e a tradição, a luz que corta o asfalto, como um reflexo que revela um ponto de reverência. Este trabalho é, acima de tudo, uma escuta. Do corpo, da cidade e daquilo que pulsa entre os dois.






