Fotografia e arquitetura habitam a vida profissional de André Nazareth, que vive no Rio de Janeiro, onde mantém um ateliê que funciona como espaço de criação, galeria e ponto de encontro para projetos autorais e de fotografia de arquitetura. Sua criação autoral é atravessada por investigações acerca do tempo e da paisagem.
A série intitulada Cartão Postal, finalista da categoria Ensaio do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, traz uma reflexão acerca da realidade cindida das grandes metrópoles brasileiras, e também traz uma abordagem bastante própria da paisagem carioca, marcada pelo contraste entre morro e asfalto. Os enquadramentos colocam lado a lado ícones do Rio — como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e a Pedra da Gávea — os bairros formais e as comunidades instaladas nos morros de seu entorno imediato, criando tensões visuais que provocam essa reflexão.
André Nazareth desenvolve atualmente o projeto Passagem Efêmera, que contrasta a presença humana diante da paisagem por meio do uso de tempos de captura prolongados. Descubra mais sobre o fotógrafo e sua obra na entrevista que segue:



Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 54 anos e vivo no Rio de Janeiro, onde também mantenho meu ateliê, que funciona como espaço de criação, galeria e ponto de encontro para projetos autorais e de fotografia de arquitetura.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
A fotografia me acompanha desde a graduação em Arquitetura, quando a linguagem documental foi meu primeiro elo com a prática fotográfica. Com o tempo, encontrei na arquitetura um campo de diálogo, representação e reflexão, explorando temas como as cidades, suas passagens e permanências, a coletividade e as transformações do espaço.
Minha trajetória se divide entre a produção autoral, marcada por investigações sobre o tempo e a paisagem, e a fotografia de arquitetura, que amplia e enriquece essa pesquisa visual. A fotografia ocupa para mim um papel essencial como meio de observação e interpretação do mundo, sendo ao mesmo tempo trabalho e forma de pensamento.



Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Cartão Postal é um projeto iniciado durante a pandemia, quando o acesso às ruas era restrito e eu só podia fotografar a partir da cobertura do meu prédio, na zona sul do Rio de Janeiro. Dali surgiram as primeiras imagens, que partiram de uma reflexão sobre uma cidade partida geográfica e socialmente, mas que ainda assim integra um todo que precisa ser pensado de forma conjunta. Os enquadramentos colocam lado a lado ícones do Rio — como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e a Pedra da Gávea — os bairros formais e as comunidades instaladas nos morros de seu entorno imediato, criando tensões visuais que provocam essa reflexão.
Ao aproximar territórios tão contrastantes no mesmo campo visual, a série convida a pensar sobre convivência, desigualdade e a necessidade de enxergar a cidade como um organismo único. O trabalho se conecta à minha produção autoral por manter o interesse na relação entre paisagem, arquitetura e presença humana, expressando essas questões por meio de um olhar estético atento e direcionado a revelá-las.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Desenvolvo o projeto Passagem Efêmera, que investiga nossa breve presença em contraste com a arquitetura que erguemos para atravessar séculos e com a natureza que se renova ou perdura por milênios. Essa disparidade temporal inspira uma reflexão sobre como ela deveria influenciar um pensamento ecológico mais responsável, questionando por que planejamos o futuro a partir de materialidades duradouras, mas nem sempre mantemos o mesmo cuidado com o essencial.
Atualmente, realizo uma imersão sobre as avenidas Paulista, em São Paulo, e Rio Branco, no Rio de Janeiro, onde o fluxo da vida cotidiana se entrelaça com a arquitetura clássica e contemporânea nesses eixos tão fundamentais para a vida e a identidade dessas cidades. Essa mesma abordagem também orienta séries como Vai Passar, Travessia e Barracão, nas quais busco integrar dimensão documental e poética para pensar a cidade, a paisagem e a presença humana em suas múltiplas camadas.


