Fotógrafa brasiliense com raízes profundas na imigração japonesa, Juliana Nonaka carrega em seu olhar a herança de quatro gerações de registro vernacular familiar. Aos 46 anos, transforma a fotografia em ponte entre a memória ancestral e a documentação contemporânea, atuando como fotógrafa independente e autoral em Brasília, com foco em movimentos sociais e manifestações culturais.
Sua imagem “A Sacerdotisa“, finalista na categoria Imagem Destacada do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, mergulha no universo do Vale do Amanhecer, complexo espiritualista fundado por Tia Neiva em 1969. Registrada em 1º de maio de 2025 – Dia do Doutrinador –, a fotografia captura a força e a devoção das médiuns dessa tradição sincrética, revelando não apenas um momento ritualístico, mas a resistência cultural e espiritual que permeia o Distrito Federal. O trabalho reflete seu compromisso em documentar manifestações religiosas e sociais muitas vezes invisibilizadas, honrando tanto sua herança familiar de registro meticuloso quanto sua busca por narrativas que amplifiquem vozes silenciadas.
Conheça mais sobre este registro poderoso e os projetos que articulam gênero, memória e fotografia na entrevista que segue.


Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 46 anos. Vivo e trabalho em Brasília/DF.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Minha relação com a fotografia está diretamente relacionada à minha ascendência oriental. A fotografia vernacular serviu como registro e memória da imigração japonesa, sendo que o acervo foi cuidadosamente construído por, pelo menos, quatro gerações da minha família. Atualmente, sou fotógrafa independente e autoral, atuando diretamente em eventos para fotógrafos do Distrito Federal. A fotografia exerce inúmeros papéis em minha vida, desde manifestação artística até documentação histórica de movimentos sociais e manifestações populares.


Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
A imagem foi tirada no dia 1º de maio de 2025, Dia do Doutrinador. A data celebra o trabalho das Obras Sociais da Ordem Espiritualista Cristã Vale do Amanhecer – OSOEC, tradicionalmente conhecida como “Vale do Amanhecer”.
O Vale localiza-se em Planaltina, região administrativa do Distrito Federal, e consiste em um complexo religioso que reúne centenas de médiuns, numa grande manifestação do nosso sincretismo religioso.
Foi fundado por Neiva Chaves Zelaya, Tia Neiva, em 1969.
Mãe de quatro filhos, Tia Neiva ficou viúva aos 22 anos, época em que mudou-se para a Cidade Livre (atual Núcleo Bandeirante) para trabalhar na construção de Brasília como caminhoneira, a primeira registrada no Brasil. Mudou-se para Taguatinga em 1964, mas somente em 1969 é que as Obras Sociais da Ordem Espiritualista Cristã (OSOEC) se fixaram no Vale do Amanhecer.
Hoje, o Vale do Amanhecer conta com cerca de 800 mil médiuns iniciados, espalhados por todo o Brasil e em outros países.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente trabalho em um projeto cujo objetivo é dar visibilidade às mulheres maduras (+50). O projeto, ainda sem título, consiste na colheita de depoimentos e produção de imagem de diversas mulheres brasileiras que compartilham as transformações ocorridas com a chegada do climatério e da menopausa, bem como suas aspirações sobre o futuro. Também estamos trabalhando em uma publicação coletiva para divulgar os fotógrafos do Distrito Federal.