Aos 44 anos, o fotógrafo oeirense radicado em Brasília Fernão Capelo constrói uma obra dedicada às manifestações de fé e cultura popular do Brasil profundo. Com trajetória iniciada na adolescência como “tirador oficial de foto” da família, ele só encontrou seu norte fotográfico após mudar-se para a capital federal em 2014 e ingressar na graduação em fotografia em 2016. Foi então que definiu seu propósito: documentar a fé de sua cidade natal, Oeiras (PI), seja diretamente ou em diálogo com outras tradições. Seu trabalho já foi coroado com o segundo lugar no Prêmio Mário de Andrade do IPHAN pela série Lamparinas do Fogaréu, consolidando-o como um dos documentaristas mais sensíveis das expressões religiosas brasileiras.
Seu ensaio “Império Kalunga“, finalista na categoria Ensaio do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é um mergulho na riqueza cultural do maior território quilombola do Brasil. Realizado durante workshop com Gustavo Minas e a NaMuchila em agosto de 2024, o trabalho captura a festa de Nossa Senhora da Abadia no Vão das Almas, onde moradores do Quilombo Kalunga constroem uma cidade temporária para celebrar sua fé. As imagens revelam os contrastes, cores e – principalmente – as pessoas que transformam a celebração em uma experiência quase surreal, difícil de capturar em sua totalidade. O ensaio dialoga perfeitamente com a vertente documental de Capelo, especializada em eventos que envolvem fé, cultura e tradição, representando tanto um aprendizado quanto uma expansão de seu olhar para além do sertão piauiense.
Conheça mais sobre esta jornada entre o Piauí e Goiás, e os projetos que mapeiam a diversidade religiosa brasileira na entrevista que segue.



Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 44 anos, sou de Oeiras (PI), mas atualmente resido em Brasília (DF).
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Bem, eu posso dizer que tiro foto desde cedo. Na minha adolescência eu já era o tirador oficial de foto lá de casa. Mas só perto dos 30 anos é que comecei a me interessar mais pela fotografia, de maneira a querer aprender e me dedicar mais a essa arte, e só depois de vir morar em Brasília, em 2014, é que consegui investir mais nessa atividade. Até aí eu era autodidata, estudando através de revistas, fazendo um workshop aqui, outro ali. Em 2016 eu entrei em uma graduação de fotografia aqui em Brasília, e nessa graduação eu meio que defini um norte para o meu trabalho: retratar a fé da minha cidade natal, Oeiras, seja diretamente ou em comparação com outros lugares. Depois de alguns anos de trabalho, consegui a minha maior conquista: o segundo lugar no Prêmio Mário de Andrade do IPHAN, com minha série Lamparinas do Fogaréu.



Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Esse trabalho foi realizado durante uma viagem fotográfica e workshop com o Gustavo Minas e o pessoal da NaMuchila em agosto de 2024. Foram alguns dias explorando a região e a cultura do Quilombo dos Kalungas, no interior do Goiás. O fim da viagem foi justamente na festa de Nossa Senhora da Abadia, onde uma grande parte dos moradores do quilombo se mudam de suas casas e montam uma pequena cidade para a festa no Vão das Almas. Os contrastes, as cores, a riqueza, e principalmente as pessoas fazem da festa uma coisa surreal, que pouco dá pra imaginar apenas por essas fotos. Como gosto de dizer que a minha vertente na fotografia é o documental, especialmente de eventos que envolvam fé, cultura e tradição, esse trabalho foi acima de tudo um aprendizado e fico muito feliz que ele rendeu frutos.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente eu continuo procurando registrar a fé e a cultura da cidade de Oeiras (PI). É um projeto que chamo de Flor do Maracujá. Ele nasceu com foco no registro da fé e tradições de Oeiras no período da Quaresma e Semana Santa, mas agora tenho planos de ampliar para retratar outras tradições da cidade, como a festa do Divino e os Congos. Poder mostrar a fé do Sertão Piauiense para o Brasil. E além disso, expandir, ir até às origens, cidades irmãs, entre outras coisas. Também, depois dessa experiência junto aos Kalungas, tenho planos de voltar lá e conhecer mais, registrar mais dessa cultura, tão rica e profunda.


