Um móvel aparece como lugar recorrente, não como centro organizado, mas como superfície onde as coisas se acumulam à medida que acontecem. Não se institui como ateliê, não por recusa, mas por ainda operar sem forma estabilizada, reunindo o que é possível em um mesmo espaço: pesquisa, edição e tratamento de imagens, leitura, escuta, alimentação, colagens, o refazer lento de um objeto manual, o uso de substâncias, a pausa, o deitar e o retorno.
As imagens não são construídas nem encenadas. Elas partem sempre do que está sobre a mesa no momento em que a fotografia acontece. Os enquadramentos se aproximam, mas não se repetem de forma rígida; variam conforme o corpo, a posição, a luz.
O trabalho suspende a separação entre tempo produtivo e improdutivo, tratando ações como fumar, escutar música, fazer uma refeição mínima, refazer um colar, como partes constituintes do processo criativo. Nada se define como acabado: não por escolha estética, mas porque o pensamento se mantém ativo, atravessado por excesso de informações, interrupções e pela tentativa contínua de compreender que certos processos, sobretudo na arte e no estudo, exigem tempo.
Ao retornar reiteradamente a esse espaço, o ensaio não busca organizar o caos nem resolvê-lo em narrativa linear. Ele se constrói como permanência instável: um modo de continuar fazendo, pensando e existindo, mesmo quando a continuidade se dá aos fragmentos.














