Fotografar pode ser uma forma de se enfronhar no real, ao mesmo tempo em que se foge um pouca da realidade. Júlio Magalhães pratica a fotografia como um respiro de ar puro, um alento para arejar as ideias e se evadir da burocracia do cotidiano.
Dedicando-se a registrar o patrimônio imaterial do estado onde vive, o Maranhão, Júlio Magalhães também se destacou ao fotografar as idas e vindas que fazia rotineiramente de São Luís à cidade de Guimarães, entre 2018 e 2020. No trajeto realizado em ferryboat, ele reparou nas pessoas, absortas em seus pensamentos, como que sonhando acordadas. Desse material nasceu o ensaio Onírico ferry, finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2023.
Conheça um pouco da gênese desse trabalho e do percurso fotográfico de seu autor na entrevista concedida ao festival:
Quantos anos tem?
44 anos
Onde vive e trabalha atualmente?
Moro e trabalho no Maranhão, mais precisamente entre as cidades de São Luís e Pedreiras.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
A fotografia está presente na minha vida desde a década de 90, quando comecei a fotografar, mas sempre de forma irregular, com idas e vindas, engajamento e abandono. Posso dizer que fotografo com constância e afinco do ano de 2017 para cá, quando adquiri minha primeira DSLR digital. Essa prática fotográfica é uma forma de “respirar ar puro”, é um meio de fugir da realidade, de arejar as ideias, algo menos burocrático que trabalho cotidiano.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2023. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
As fotografias do ferry foram tiradas entre os anos de 2018 e 2020, período em que morei e trabalhei na cidade de Guimarães, litoral ocidental maranhense. As idas e vindas até a capital, via de regra, passavam pelo ferryboat, local onde muitas histórias aconteciam.
Assistir a tudo aquilo sem um registro seria algo inimaginável para alguém que andava com a máquina fotográfica ou celular sempre à mão, a espera de uma cena ou um momento. Assim, acabei com bom acervo sobre a travessia da Baia de São Marcos, registro de gente e de animais, da embarcação e do entorno. Não um registro de sonhos, mas um registro dos sonhadores e daquilo que os embala. Deste acervo foram retiradas as fotografias do ensaio, de modo a transparecer uma, dentre as tantas, viagens que fiz naquelas embarcações, de modo a transportar o observador pela Baia de São Marcos enquanto ele também sonha.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente trabalho basicamente com a fotografia de patrimônios imateriais do meu estado, notadamente o tambor de crioula e o bumba-meu-boi, sem nunca abandonar a fotografia dos caminhos que percorro no Maranhão. Em suma e sendo repetitivo: fotografo o Maranhão.
Parafraseando João Vale, todo mundo retrata sua terra, então eu também retrato a minha, pois minha terra é uma belezinha. Os planos são continuar esse registro e acumular um acervo que possibilite a impressão de uma obra robusta sobre algum dos patrimônios imateriais do meu lugar.