De origem franco-brasileira, Maria Ausier nasceu em Itacoatiara, pequena cidade no coração da Amazônia, e hoje vive em Aix-en-Provence, no sul da França. Seu interesse pela fotografia começou desde muito jovem, quando percorria as comunidades ribeirinhas no interior do Amazonas, consolidando-se ao estudar na Escola de Belas Artes de Nantes, França.
Seu trabalho é variado e envolve diferentes países e lugares. Com uma abordagem próxima da arte contemporânea, Maria Ausier desenvolve atualmente três projetos fotográficos, um sobre a situação de indígenas desenraizados, expulsos de suas terras, na Amazônia, outro sobre o intenso uso de bicicletas em Amsterdã, nos Países Baixos, e as consequências positivas que daí decorrem, e um terceiro sobre os pescadores da praia de Mucuripe, em Fortaleza, que guardam suas tradições apesar dos efeitos da urbanização acelerada.
No Prêmio Portfólio FotoDoc 2023, Maria Ausier é uma das finalistas da categoria Imagem Destacada, com Tokyo teen, imagem que sintetiza a vibrante juventude da capital do Japão. Descubra mais detalhes sobre o perfil dessa fotógrafa e seus projetos em países e sobre temáticas tão distintos.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
63 anos, Moro e trabalho na França. Faço parte da equipe de organização de eventos fotográficos na Instituição Fontaine Obscure de Aix-en-Provence na França.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Franco-brasileira, nasci em “Itacoatiara”, uma pequena cidade no coração da Amazônia brasileira. Meu interesse pela fotografia começou desde muito jovem, quando navegava com meus pais no rio Amazonas. Conheci os ribeirinhos, povo que vive à beira do Rio Amazonas, mas também quando trabalhei em áreas precárias, a fim de proporcionar uma ajuda educativa e solidaria.
Me defino como uma artista contemporânea. Meus projetos já foram exibidos na França e no Brasil. Estudei fotografia na Escola de Belas Artes de Nantes, França. Minha principal motivação como artista-fotógrafa é de entender o homem com toda sua complexidade e trazer reflexões sobre temas sensíveis de nossa sociedade.
Meus ensaios fotográficos exploram questões sociais, ecológicas, políticas e econômicas. Trabalho principalmente com projetos construídos e pensados. Na prática capto o momento presente com emoção e intuição. Estou em busca da identidade dos homens e dos seus modos de vida, com todas as suas diferenças e riquezas. A primeira vez que peguei uma câmera foi para fotografar lugares e culturas de povos isolados. Atrás de cada uma de minhas fotos esconde uma história. Meu centro de interesse é o homem. Sou convencida de poder compartilhar sua história através de um olhar, de uma postura… Para mim a câmera é uma ferramenta que permitir-me criar novas relações, graças às minhas fotos eu posso compartilhar o que eu sinto.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2023. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
O Japão é para mim um país particular… Sempre fui atraída pela beleza paradoxal e contrastante da Terra do Sol Nascente, onde a tradição se encontra com modernidade.
Neste projeto é a juventude de Tóquio que me interessa, aquela que se movimenta e evolui socialmente dentro das grandes cidades japonesas. Em 2017, fui ao encontro desta geração com a intenção de melhor conhecer sua cultura e seu modo de vida. Durante a minha estadia, senti-me transportada fora do tempo.
Consegui capturar o instante presente misturando-me à multidão. Observava os contrastes entre o racional e o irracional. Encontrei nas ruas de Tóquio, jovens em trajes tradicionais e em paralelo outros jovens exuberantes e futuristas… Uma forma destes jovens japoneses se rebelarem contra as regras do mundo adulto e afirmarem a sua individualidade, ainda que, dentro de alguns anos, provavelmente se juntem às próprias fileiras conformistas dos empregados das empresas japonesas.
Nesta imagem tentei captar a atmosfera que reina na cidade de Tóquio, com a única ambição de testemunhar uma geração onde dois mundos tão diferentes expressam a riqueza de um país e seu povo.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Tenho três projetos em andamento e 2 convites para uma exposição aqui na França em 2024.
Os Últimos Testemunhos: este meu ensaio fotográfico visa testemunhar a situação do indígenas, desenraizados, expulsos de suas terras, e em permanente conflito com interesses econômicos, forçados a deixar esta Amazônia profunda e fértil.
A Bicicleta é o rei de Amsterdã: Faço uma homenagem a esta cultura que entendeu os benefícios da atividade física de seus habitantes, mas também os enormes benefícios ambientais.
Entre o Mar e os Homens-Mucuripe: Este ensaio consiste em valorizar os Pescadores da praia do Mucuripe, Fortaleza, que apesar da recente urbanização guardaram suas tradições.