Formada em Arquitetura, Ana Clara Matta utiliza a fotografia no âmbito de pesquisas acadêmicas, sempre buscando referências na história da arte, e ainda desenvolve outras aplicações, como cobertura de eventos e produção em estúdio. Ela é uma das finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2023 na categoria Imagem Destacada com a foto intitulada Homem segurando um sonho.
A imagem mostra um agricultor do MST na região de Ouricuri, Rio Grande do Norte, segurando um maço de algodão produzido em um assentamento do qual participa. Simboliza a emancipação pelo trabalho e a realização do sonho de transformar a terra em meio de vida e de produção. Ana Clara Matta também identifica uma referência ao surrealismo.
Descubra um pouco mais sobre essa jovem e versátil fotógrafa.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 23 anos de idade e moro e trabalho em São Paulo, capital.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Meu interesse pela fotografia começou quando tinha 18 anos e viajei pela primeira vez sozinha para fora do país. Nessa experiência, meu objetivo em relação à fotografia era simplesmente registrar a viagem. Porém, logo percebi que meu olhar fotográfico buscava outras imagens que despertavam o meu interesse, e a viagem passou a ter esse caráter de exploração fotográfica. Hoje, percebo que a fotografia, e o olhar desenvolvido a partir dela, é parte intrínseca a como eu observo o cotidiano e como eu vivo a experiência urbana.
Minha formação em arquitetura, também, tem um papel fundamental na instrumentalização do conhecimento e de construção de linguagem e repertório para a fotografia.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2023. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
O trabalho Homem segurando um sonho foi realizado em 2019, na região de Ouricuri, Rio Grande do Norte. Na ocasião, eu havia sido convidada para fazer o registro de uma pesquisa com produtores de algodão orgânico no sertão do estado, e tive a oportunidade de conhecer diferentes formas de assentamento de agricultores familiares (dentre as quais ocupações do MST). Assim, o registro foi feito numa visita a uma plantação de algodão em época de colheita.
A proposta da imagem é exaltar a experiência deste momento, na qual o produtor observa com satisfação emancipatória o resultado do seu trabalho, desde a primeira semente colocada sob o solo até o fim do ciclo de plantio. O algodão é também sonho e uma construção coletiva de possibilidades de melhoria na qualidade de vida dos produtores rurais brasileiros. Do ponto de vista estético, a referência surrealista dessa imagem me encanta particularmente, pois busco, em minha produção fotográfica, o diálogo com a pesquisa acadêmica e a história da arte, através da experimentação fotográfica.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente, me dedico à pesquisa acadêmica dentro da FAU USP com apoio da FAPESP, cujo tema trata das comunidades indígenas em contexto urbano, em especial, a experiência urbana do povo indígena Pankararu que vive hoje no bairro do Real Parque, e sua a produção simbólica e a apropriação criativa do espaço. Uma das metodologias de pesquisa é a fotografia, pois auxilia na construção de sentido, essencial para a compreensão do morar Pankararu, no caso dessa pesquisa.
Em segundo lugar, tenho adquirido experiência em estúdio, principalmente com fotografia de ensaio de moda, em trabalho recente para Baobá, ateliê de design de joias artesanais.
Recentemente, também, tive a oportunidade de trabalhar em coberturas de eventos como a Mamba Negra edição de 10 anos, um dos maiores eventos de música eletrônica de São Paulo, e a Parada do Orgulho 2022, compondo a equipe da Mídia Ninja.
Tenho como planos de futuro aprofundar meu estudo em fotografia de arquitetura e fotografia jornalística. Procuro também instrumentalizar e profissionalizar meu trabalho como fotógrafa, tendo em vista de que acredito ser uma das minhas ambições profissionais.