Para Ananda Nunes, fotografar é uma forma de se expressar e ao mesmo tempo de se descobrir. Vivendo entre Feira de Santana e Salvador, ela volta suas lentes para manifestações culturais e para o corpo, realizando autorretratos e retratos femininos.
Seu Ensaio “Maré de Maré” é um dos finalistas Prêmio Portfólio FotoDoc 2023. Foi realizado durante uma imersão fotográfica com o fotógrafo João Machado na Ilha de Maré, em Salvador, onde vive uma comunidade quilombola que vive da pesca e do artesanato. O ensaio é composto de dípticos e trípticos, que permitem afirmar o mundo e o corpo de maneiras outras, para além das que fomos adestrados a olhar.
Saiba mais sobre esse ensaio e sobre a trajetória de Ananda Nunes.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 28 anos. Moro em Feira de Santana, interior da Bahia. Trabalho em Feira de Santana e em Salvador.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
A fotografia esteve presente em minha vida desde a mais tenra infância… nos álbuns de família e registros cotidianos que meus pais costumavam fazer de nós (5 irmãos): nossas fases e desenvolvimento, datas comemorativas e vivências em casa. Lembro de crescer revisitando esses álbuns, essas memórias; às vezes a família se reunia ao redor daquelas imagens, contanto histórias, relembrando os momentos de cada foto: era um evento! Para mim, havia sempre muita magia nisso… e fui assim, desde a infância, nutrindo afinidade, encantamento e prazer pela fotografia. Na adolescência pedi uma câmera de presente de aniversário e fotografar se tornou algo natural do meu cotidiano. Apesar desse contato, por conta de convenções e padrões sociais, nunca tinha pensado em fotografia como caminho de vida. Fiz vestibular e cheguei a cursar Farmácia na Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS – entre 2013 e 2017. Nunca me identifiquei com o curso e continuava fotografando… até que a fotografia se apresentou para mim como um caminho e já era inviável continuar estudando farmácia. Decidi trancar o curso para me dedicar ao estudo e prática da fotografia. Desde então, tenho voltado meu olhar para manifestações cotidianas (cenas urbanas, manifestações cultarais e populares, imagens do banal) e para o corpo, através dos autorretratos e retratos femininos, entendendo fotografia como linguagem e expressão artística.
A fotografia é meu lugar no mundo, é o lugar por onde eu falo. E, enquanto falo, procuro por mim… uma busca constante pelo que se esconde no incosciente. Fotografar é sobre ver a roda girar: eu falo através da imagem e ela fala comigo de volta.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2023. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
As imagens desse ensaio são resultado de uma imersão fotográfica, sob a condução de João Machado, em Ilha de Maré, Salvador, Bahia, Brasil, realizada em maio de 2023. São dípticos e trípticos construídos para refletirem o diálogo constante entre a simplicidade e complexidade que habitam o cotidiano da ilha: uma comunidade quilombola que abriga marisqueiras, pescadores e artesãos. As cores, miudezas, texturas, os cheiros, sons, a beleza nas coisas ordinárias, a história e resistência de um povo, a vida envolta pelo mar e esse mesmo mar no centro de tantas vidas… uma maré de encantos.
Acredito na fotografia como caminho para transmutar pequenos mundos e encontrei nela uma potência para criar discursos imagéticos que se propõem a afirmar o mundo e o corpo de maneiras outras, para além das que fomos adestrados a olhar. É nessa perspectiva que o trabalho “Maré de Maré” se encaixa, na busca pela construção de poéticas visuais que despertem sentimentos, gerem reflexões, provoquem mudança.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Tenho me dedicado também à participação em projetos coletivos e interdisciplinares, vivências, festivais e exposições. Entendendo que nossa experiência no mundo é visual e o quanto as imagens fotográficas influenciam nossa percepção e contribuem para moldar nossas concepções estéticas, éticas etc; pretendo expandir minha participação nesses espaços, produzindo narrativas fotográficas a partir de um lugar cada vez mais consciente do fazer fotográfico.