A fotografia chegou de maneira tardia e arrebatadora na vida do pernambucano Elias Oliveira. Graduado em Tecnologia da Informação, trabalhou por 32 anos em atividades relacionadas à aviação civil e na área de informática. A transição para a fotografia aconteceu em 2015, ao fazer um curso no Senac-PE. Logo na primeira semana de aula, adquiriu câmera e lentes e se esqueceu de vez de qualquer outra atividade, tamanha a motivação.
A partir de 2016, com vontade de praticar e aprender mais, Oliveira se dedicou a pequenos projetos autorais em Recife (PE) em viagens de lazer por cidades do interior de Pernambuco. Registrou o trabalho dos oleiros em Tracunhaém e a magia do maracatu rural em Nazaré da Mata. Em meados 2017, uma palestra do renomado Araquém Alcântara em um evento na capital pernambucana chamou a sua atenção. O fotógrafo alertou os presentes para a necessidade de se retratar o sertão nordestino, visando valorizar a cultura regional. Desse alerta que nasceu Sertão Imponente, primeiro projeto documental de longo prazo de Elias Oliveira, 60 anos de idade.
“Quando se fala do sertão, é comum dar ênfase apenas aos problemas que afligem os sertanejos e às terríveis consequências produzidas pela seca. Para estimular um olhar diferente, venho percorrendo regiões do semiárido nordestino documentando comunidades, fazendas e sítios da zona rural. Busco retratar a beleza dos cenários, o poder da natureza, a riqueza da cultura, o cotidiano do povo e coisas do sertão”, resume.
Oliveira vai desdobrando o tema mais amplo em uma série de temáticas específicas. Atualmente, ele está em fase de conclusão da temática “A Cultura do Vaqueiro”, com imagens realizadas em Serrita (PE). Outras temáticas são desenvolvidas em paralelo, visando ao aproveitamento e ao incremento na produção de imagens que poderão ser utilizadas em outro momento. “Sair a campo é a etapa mais prazerosa para qualquer fotógrafo documental, desde que as etapas de pesquisa, planejamento e pré-produção tenham sido executadas a contento. Minhas saídas começam dias antes por meio de uma visita, que considero indispensável para conhecer os fotografados e vice-versa. É preciso se familiarizar com a rotina e as peculiaridades do ambiente em que tudo vai acontecer, explicar sobre o projeto e esclarecer sobre a necessidade e a importância da permissão do uso de imagem”, ensina.
Fotos aos retratados
Após a realização de uma sessão de fotos, Oliveira sempre leva um álbum de imagens às pessoas retratadas. Essa interação é fundamental para ganhar a confiança e para retribuir o tempo disponibilizado pelos participantes. Ao retornar várias vezes ao mesmo lugar, o fotógrafo vai criando vínculos afetivos com o tema e passa a compreender de maneira cada vez mais completa todas as questões que envolvem aquela realidade. Outra peculiaridade é que ele sai para fotografar acompanhado da irmã, Helena, que atua como assistente. Na prática, percebeu a importância da presença feminina por ser um facilitador no processo de aproximação das pessoas fotografadas, principalmente quando se trata de uma família ou casal.
Apesar da existência de vários caminhos possíveis para o financiamento de projetos, até o momento Elias Oliveira tem bancado a realização de Sertão Imponente com recursos próprios. Não vê a prática como gasto, mas como investimento, que deve resultar em ganhos futuros, mas já tem dado frutos imediatos. “A fotografia documental tem me tornado uma pessoa melhor, propiciando incontáveis momentos de felicidade, motivação, realização pessoal e profissional. Isso se dá pela possibilidade de poder tocar o projeto com total liberdade, sem pressões, interferências, cobranças e prazos”, avalia.
Oliveira reconhece que a conciliação de trabalho comercial e autoral é o sonho de todo fotógrafo. Uma vez que iniciou a produção recentemente, ainda não tem muita familiaridade com os mercados editorial e de arte no Brasil. Ainda assim, Sertão Imponente já começa a colecionar resultados positivos. O trabalho foi selecionado para a Mostra de Portfólios do 8o Festival de Fotografia de Tiradentes, em 2018, foi um dos vencedores do 13o Prêmio New Holland de Fotojornalismo e ficou entre os finalistas da Convocatória no 150 Paraty em Foco, ambos em 2019.
Uma das características do documentário fotográfico de Oliveira está no tratamento das imagens em P&B, que é bastante contrastado. “É na pós-produção que a fotografia fica com a minha cara. Uso o módulo revelação do Lightroom para trabalhar contrastes, texturas, luz e sombra, preto, branco, tons de cinza e outros recursos que possam mostrar e valorizar tudo aquilo que vi e o que senti naquele momento único e mágico”, explica.
Quem é ele
Pernambucano nascido em Recife, Elias Oliveira se formou em Tecnologia da Informação e trabalhou na área até 2009, quando se aposentou. Ele descobriu a fotografia tardiamente, no final de 2015, ao realizar um curso no Senac-PE. A partir de 2016, passou a desenvolver pequenos projetos autorais. Em 2017, iniciou o projeto Sertão Imponente, ao qual se dedica atualmente. Instagram: @eroliveira.fotografia.