A fotografia de rua surgiu como algo natural na vida de Melvin Quaresma. Na infância, ele morou em Florianópolis (SC) e se divertia quando ia ao centro da cidade olhar o movimento. Na época em que começou a fotografar, já morando em Curitiba (PR), o primeiro impulso foi o de pegar a câmera e sair pelas ruas do centro da cidade.
“Sou muito tímido. Para mim, começar a fotografar na rua foi um desafio, uma forma de superar a timidez. Com o tempo, fui me sentido cada vez mais à vontade para experimentar e comecei a fazer algumas coisas mais segmentadas. Costumo chamar esse tipo de produção de fotografia do cotidiano, pois é realizada no dia a dia e sem a pretensão imediata de se tornar uma série ou algo mais aprofundado”, conta Quaresma.
Das suas incursões pelas ruas da capital paranaense, surgiu a ideia de fazer uma série de retratos, intitulada Centrais. Os personagens são retratados com luz artificial – um flash compacto dedicado utilizado com sombrinha, fora da câmera. Todos os retratados foram encontrados, abordados e fotografados na rua.
Dentre os fotógrafos de rua cujo trabalho Quaresma mais admira estão os brasileiros Carlos Moreira e Gustavo Minas e a americana Vivian Maier, que trabalhava como babá em Chicago e fotografava nas horas vagas, tendo deixado um enorme acervo de cenas de rua e autorretratos, “descoberto” apenas depois de sua morte.
Abordagem discreta
Melvin Quaresma fotografa com uma Fujifilm X100F, compacta premium com objetiva fixa de 35 mm, e uma Panasonic GX7, mirrorless que costuma usar em conjunto com uma objetiva de 40 mm. “Prefiro usar equipamentos pequenos, justamente por conta da abordagem discreta. Não gosto de chamar a atenção quando estou fotografando”, relata.
Para Quaresma, a fotografia de rua é algo que surge por paixão, pela pura vontade de fazer, distinta de seu trabalho documental, que é mais elaborado e aprofundado, e de sua atuação comercial. “Comercialmente, faço fotografia para empresas. Tem um pouco de fotografia de rua nisso, de tudo o que aprendi na rua, essa coisa de observar bastante e de interferir pouco”, explica. Ele utiliza o Instagram como principal ferramenta para dar vazão a essas imagens do dia a dia e deixa o site para publicar as séries documentais mais elaboradas.
Quaresma destaca a importância das comunidades e dos coletivos de fotógrafos de rua surgidos em anos recentes. “No Flickr tem uma comunidade que reflete muito do que é a fotografia de rua contemporânea para mim. Há referências muito boas, grupos muito fortes, com uma boa curadoria. O meu preferido é o Hardcore Street Photography. Existe um movimento de globalização que acho muito interessante, coletivos que reúnem fotógrafos de várias nacionalidades, como o Burn my Eye”, aponta.
Para Quaresma, a principal atitude para se tornar um fotógrafo de rua é pegar o equipamento e sair a campo, na busca de descobrir, por conta própria e na prática, qual é a abordagem. “Minha abordagem é discreta. Interajo pouco com as pessoas. O meu trabalho na fotografia de rua foge dos padrões mais praticados hoje em dia. Trabalho bastante em P&B, não costumo fazer composições complexas nem jogos de luz e sombra, fotografo muito em dias nublados e gosto de fazer fotos simples, de fazer o mínimo, enquadramentos com poucos elementos”, afirma.
Quem é ele
O jovem Melvin Quaresma, de 24 anos, vive em Curitiba (PR). Começou a fotografar há sete anos e foi revelado pelo Concurso Universitário de Fotografia, promovido por Fotografe, do qual foi vencedor em 2013. Desde o início se interessou pela fotografia de rua, pois sempre gostou muito de frequentar o centro da cidade. Também realiza séries documentais sobre temas diversos. www.melvinquaresma.com / @melvinquaresma.