Em 1924, há exatos 100 anos, como consequência das revoltas tenentistas, tropas rebeldes fogem de São Paulo a fim de encontrar outros revolucionários liderados por Luis Carlos Prestes vindos do Rio Grande do Sul. A cidade Catanduvas, no oeste paranaense, que significa região de mata dura em tupi,
foi escolhido como ponto de encontro por haver lá um telégrafo, principal meio de comunicação da época. O vilarejo acaba se tornando palco de uma batalha que dura quase um ano entre as tropas rebeldes e as legalistas do exército brasileiro, estimando-se mais de mil soldados mortos em batalha. Hoje, a cidade, além de abrigar um dos cinco presídios federais de segurança máxima, convive com as poucas lembranças que restam desse evento. A guerra, que ficou conhecida como Revolução Esquecida, deixou poucas fotografias como registro, não sendo fácil encontrar detalhes do seu acontecimento em livros de história e na literatura especializada, que prioriza os eventos anteriores, em São Paulo, e os posteriores: o surgimento da Coluna Prestes. Este ensaio se propõe a pensar, a partir do cruzamento entre o presente e o passado, o histórico de violência e disputa política do Brasil. Se o que restou da guerra de Catanduvas foram poucos vestígios apagados pelo tempo, a fotografia contemporânea se mostra uma aliada para resgatar a memória através da imaginação.
A série Catanduvas apresenta quinze fotografias realizadas na cidade paranaense, revelando paisagens urbanas e da região, objetos cotidianos e de guerra, que induzem o espectador a construir através da edição das imagens uma proposição sobre a guerra e as ressonâncias no presente. As fotografias, realizadas de forma quase sempre frontal ao assunto e priorizando os assuntos inseridos no espaço, buscam manter uma tradição com parte da fotografia documental contemporânea e lançar um olhar para as disputas que existem no enredo do conflito, revelando um país historicamente dividido, polarizado e violento.