Este ensaio é um percurso entre presenças e ausências refletidas. Em cada imagem, há um corpo — às vezes inteiro, às vezes fragmentado, às vezes já ausente — atravessado por superfícies que não apenas devolvem sua imagem, mas a desdobram, distorcem ou sentenciam.
A figura humana não é protagonista nem decorativa. Ela é espectro, sombra, espelho, vestígio. A fotografia, aqui, não observa: reverbera. As composições surgem do diálogo entre estrutura e fluidez, entre vidro, água, sombra e superfície. O reflexo, elemento técnico exigido, é também uma metáfora de duplicação, de trânsito entre planos e sentidos.
Estas imagens não contam uma história linear, mas formam um ciclo de percepções e ecos visuais. Elas não se completam; elas se tensionam, se ressoam, se espelham. E nos colocam diante do mais essencial: a pergunta muda que surge sempre que vemos nossa própria imagem — duplicada no mundo.

Sentado em meio ao escuro, um corpo trajando roupas cerimoniais é atravessado por seu reflexo no chão. A cena sugere uma existência entre planos — não mais inteira, nem ausente.

Rodeada por gotas suspensas, uma mulher se funde aos reflexos. O rosto entre as esferas parece flutuar, dissolvendo identidade em transparência líquida e tempo condensado.

Um homem repousa contra o vidro, refletido no chão dourado e azul. A pausa silenciosa transforma o espaço em um campo entre o interno e o externo — suspensão e travessia.

No centro de um corredor reflexivo, um homem caminha rumo à luz. O espaço duplicado e geométrico sugere tempo e memória comprimidos em arquitetura e sombra.

Uma figura solitária repousa entre estruturas de luz e linhas metálicas. O reflexo do espaço no chão constrói uma cela invisível: o cárcere da repetição cotidiana.

Diante da igreja em ruínas, um jovem se equilibra entre o salto e a contemplação. A água reflete a arquitetura vencida e o corpo em suspensão, como se o tempo se dividisse entre o que ainda resta e o que está prestes a desaparecer. O reflexo vibra como um eco líquido da fé e da infância.

No chão polido, um sapo morto é atravessado pelo reflexo de um poste. A cena crua ganha um traço fatal e simbólico: o reflexo atua como lâmina invisível e silenciosa.