Nos primeiros meses da pandemia fomos eu, meu marido, Athena, a cadela, e Lady, a gata, morar na pequena praia de Rondinha Velha – município de Arroio do Sal, litoral norte do RS – para nos afastarmos do foco de Covid-19. Lá ficamos por mais de um ano.
Para ocupar o tempo estabeleci uma rotina diária de caminhadas pela orla fazendo alguns registros fotográficos ainda sem um objetivo claro. Passeando pela praia, ainda usando máscara, encontrava pescadores no mar, aves migratórias e outros moradores que dividiam esse exílio comigo.
A medida que o tempo foi passando, essas caminhadas pela areia do mar ganharam um novo significado. Fotografei o que mais me sensibilizou e o que mais me surpreendeu entre os vestígios da existência de outros seres, humanos e animais, que encontrei na areia. Decidi coletar alguns objetos descartados que achei pelo caminho.
Ali começava a germinar o projeto de reuni-los em uma espécie de escultura ou instalação. Sentia-me plenamente presente e isso manifestou-se com minha sombra aos poucos invadindo as imagens. Percebi o tempo como nunca antes quando andava sozinha, estava disponível com todos os sentidos à contemplação. Passei por um processo de conexão com o mar e com a natureza, de consciência e reflexão sobre a responsabilidade da nossa presença no planeta. Atenção você aí!