Diz-se que nosso tempo na Terra é breve: a carne desfaz-se, mas a alma perdura — sutil e infinita. Desde a juventude, fui atraído pelo invisível, não por morbidez, mas por uma reverência silenciosa ao mistério. Em cemitérios e templos, caminhava como quem atravessa uma ponte entre mundos, à procura de vestígios do não dito, daquilo que não se pronuncia em voz alta.
Foi nesse limiar entre o visível e o oculto que descobri a arte funerária. Entre sombras, estátuas e lápides gastas pelo tempo, algo me chamava — não apenas o silêncio, mas as histórias que ele guarda. Cada escultura, cada ornamento, carrega mais do que memória: carrega o peso e a leveza da existência — sua dor, sua beleza, sua finitude e sua permanência.
Jardim dos Espíritos Sussurrantes é um ensaio fotográfico que mergulha nesse universo estético e simbólico. Uma tentativa de captar os murmúrios das almas que já partiram e daquelas que ainda perduram além do véu. Essas figuras tumulares não são apenas arte; são sentinelas da vida e da morte, guardiãs da dor e da esperança. Velam os que se foram e iluminam os que ficam.
Alguns afirmam que estamos destinados a retornar — ciclo após ciclo, existência após existência — até que nosso propósito mais profundo seja, enfim, revelado. E assim, entre o efêmero e o eterno, a arte tumular sussurra: a morte não é o fim, mas um limiar.
Uma história contada por meio de imagens.
Imagens que são apenas fragmentos do que há após a morte.