Realizado em Allahabad, na Índia, durante o Kumbh Mela — o maior festival espiritual do mundo — este ensaio se debruça sobre os sadhus e aghoris, figuras sagradas que habitam os extremos da espiritualidade hindu. Homens santos, renunciantes, que abandonam o mundo material em busca da transcendência, vivendo em isolamento, meditação e rituais intensos que desafiam os limites da moral e da razão.
Cobertos de cinzas retiradas muitas vezes de piras funerárias, alguns vestem apenas o silêncio, a entrega, rompendo todos os tabus em nome da dissolução do ego. Comungam com a morte, fumam cannabis como prática ritual, e veem em tudo uma manifestação do divino — inclusive naquilo que o mundo teme ou rejeita.
Movida por uma profunda curiosidade pelo outro e suas formas de existência, a artista fotografa não para explicar, mas para testemunhar. Seu olhar repousa sobre os momentos em que o sagrado e o cotidiano se encontram. As imagens habitam o espaço entre o visível e o invisível, o real e o mítico, o corpo e o espírito.
Cada rosto, cada gesto, cada vestígio de cinza e chama, torna-se um portal de presença. As fotografias são oferendas visuais — instantes em suspensão que revelam, em sua crueza e potência, uma existência que caminha de maneira nua e crua, entre o céu e a terra.

Ali, o eu já não importa. O que existe é presença crua.





