Com quase 70 anos completos, o porto-alegrense Eloi De Farias carrega nas lentes uma vida dedicada à imagem – primeiro como artesão da fotomecânica em gráficas, agora como documentarista da terra e de seus cultivadores. Aposentado há 15 anos após décadas editando obras de fotógrafos renomados para o universo editorial, ele hoje transforma seu olhar apurado na pré-impressão em instrumento de celebração dos saberes tradicionais e da agricultura orgânica. Fundador do Fotoclube Porto-alegrense, que reúne 120 associados em torno de projetos que unem técnica, afeto e compromisso com o registro documental.
Sua imagem “Arrozeiro Orgânico“, finalista na categoria Imagem Destacada do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é um tributo sensível à resistência dos agricultores ecológicos da região metropolitana de Porto Alegre. Realizada em Mariana Pimentel durante um curso de fotografia documental promovido pelo fotoclube, a fotografia captura o momento ancestral da colheita manual do arroz – com foice, feixes amarrados com palha e o transporte em carreta de bois –, revelando não apenas um método de cultivo, mas toda uma cosmologia do trabalho que persiste frente à industrialização. Mais do que registro, a imagem transborda respeito e admiração por essas comunidades que alimentam a cidade há 30 anos através da Feira de Agricultores Ecológicos, projeto do qual o fotoclube tornou-se memória visual.
Conheça mais sobre esta jornada entre a fotomecânica e o campo, o valor do coletivo e os planos que mantêm viva a paixão pela imagem na entrevista a seguir.



Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Vou fazer agora em 11 de novembro 70 anos. Vivo em Porto Alegre, na orla do Rio Guaíba, bairro Guarujá. Já estou aposentado há cerca de 15 anos. Desde os 14 anos trabalhei em gráfica, como fotógrafo, mas em fotomecânica, fazendo fotolitos na edição de fotos para pré-impressão.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Revelei o primeiro filme em minha casa com 10 anos de idade, fazendo favor para meu irmão que fazia “bicos” de fotógrafo de fim de semana; ele me treinou. Desde aí me relacionei com a fotografia. Depois fui trabalhar na gráfica com este meu irmão e com o primeiro salário comprei uma Flexaret. Fazia minhas fotografias como amador, só clicando coisas de família e amigos, mas profissionalmente tinha a carteira assinada como fotógrafo de fotomecânica com equipamentos de reprodução para impressão em offset.
Reproduzia material gráfico de fotógrafos profissionais; isto foi minha vida toda. Conheci o Photoshop em 1990 em uma feira gráfica na Alemanha – foi um passo em direção à edição eletrônica até me aposentar. Fui parceiro de renomados fotógrafos do Brasil que publicaram suas obras, editando para variados tipos de publicações, tanto editorial como publicitária. Foram estes profissionais que me motivaram a perseguir sempre o melhor. Conquistamos juntos muitos prêmios na jornada.


Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Esta foto selecionada como destaque foi feita em um curso do Fotoclube Porto-alegrense, do qual sou fundador e hoje temos 120 associados. Fizemos um acordo para registrarmos os produtores de uma Feira de Agricultores Ecológicos que estava completando 30 anos em Porto Alegre. A ideia era clicá-los em suas propriedades executando suas atividades orgânicas. Para isto, tivemos um curso de Fotografia Documental para irmos a campo.
Esta imagem foi obtida em um município da região metropolitana de Porto Alegre, área rural de Mariana Pimentel, onde o trabalhador colhe seu arroz orgânico de modo todo artesanal, com a foice, e organiza em feixes amarrados na própria palha. Depois, com a carreta de bois, vem recolher para secar no galpão da propriedade. Esta fotografia me traz muita felicidade por poder mostrar e documentar este trabalho maravilhoso desta comunidade de agricultores tão importante para nossa cidade.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Meu projeto atual é poder contribuir com o melhor para o Fotoclube que ajudei a construir e, por estar sempre competindo em concursos mundo afora, me traz muita motivação para viver. Fotografar é e foi o que impulsionou minha vida: antes profissionalmente e, hoje aposentado, uso esta arte para me divertir.

