A fotógrafa documentarista paulistana Kity Ramos constrói uma obra dedicada à preservação da memória e à celebração da diversidade cultural dos povos tradicionais. Com apenas cinco anos de trajetória fotográfica, ela desenvolveu um olhar singular voltado para a beleza e resistência de comunidades isoladas ao redor do mundo, transformando a câmera em instrumento de valorização de saberes ancestrais. Seu trabalho nasceu do encantamento com a luz nos olhos e sorrisos de pessoas que, apesar da escassez material, guardam uma riqueza cultural imensurável, transmitida através de gerações.
Seu portfólio “As Grandes Guardiãs“, finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é um tributo à força feminina que sustenta culturas milenares. Desenvolvido ao longo dos últimos cinco anos, o projeto documenta mulheres de treze etnias distintas – incluindo Pokot (Quênia), Kayapó (Brasil), Dongria Kondh (Índia) e Hmong (Vietnã) – que atuam como guardiãs de saberes, rituais e práticas ancestrais. Mais do que retratos, as imagens revelam a coragem e resiliência dessas mulheres que enfrentam a pressão da globalização para manter viva a identidade de seus povos. O trabalho sintetiza perfeitamente a missão que Kity abraçou: usar a fotografia como ferramenta de preservação da memória, devolvendo os registros às próprias comunidades enquanto compartilha com o mundo histórias que resistem ao apagamento.
Conheça mais sobre esta jornada de conexão profunda com povos originários e os projetos editoriais em desenvolvimento na entrevista que segue.



Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 55 anos, moro em São Paulo, sou fotógrafa documentarista, desenvolvendo trabalho de registro de dois projetos: As Grandes Guardiãs e Quando a Terra Sussurra que em breve se transformarão em livros.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Comecei a fotografar há 5 anos, movida pela beleza que encontrava nas pessoas de comunidades tradicionais e vilarejos que visitava pelo Brasil e pelo mundo. Muitas dessas comunidades, apesar de serem extremamente isoladas, com poucos recursos, eu encontrava pessoas que guardavam no olhar e no sorriso uma beleza que sempre me encantou. Passei a observar de perto a ligação dessas pessoas com suas origens — saberes, histórias e práticas transmitidos de geração em geração.
Foi assim que nasceu o desejo de registrar esses rostos, olhares e lugares, documentando culturas ancestrais que mantêm sua vitalidade, apesar da pressão da globalização que, aos poucos, tem promovido o apagamento de práticas, modos de vida e rituais ligados à ancestralidade desses povos.
Hoje, por meio das imagens que produzo, busco não apenas compartilhar essa beleza e esse potencial com o mundo, mas também devolver esses registros às próprias comunidades. A fotografia, para mim, é uma ferramenta de preservação da memória e de valorização da diversidade cultural — histórias originais que atravessam gerações.
Fotografar me permitiu uma conexão mais profunda com as pessoas e com os lugares. Aprendi a olhar com mais atenção para a luz, para os detalhes e para os hábitos de cada povo. Passei a perceber o que antes poderia passar despercebido: a complexidade humana expressa de formas tão distintas, e ao mesmo tempo tão semelhantes.
Quanto mais fotografo, mais me apaixono pelo que faço e mais aprendo. Meu objetivo é preservar e valorizar as culturas ligadas à ancestralidade, que estão desaparecendo diante dos nossos olhos — mas que ainda têm muito a nos ensinar.



Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
O projeto de fotografar As Grandes Guardiãs surgiu do meu desejo de capturar a beleza da diversidade cultural e a força feminina expressa de formas únicas ao redor do mundo.
Neste trabalho que realizei ao longo dos últimos 5 anos, fotografei mulheres de diferentes etnias – Pokot, Gabra, Turkana, Samburu, Kayapó, Yi, Intha, Red Dao, Hmong, Lachi, Giay, Dongria Kondh e Desia Kondh — que atuam como grandes guardiãs de seus povos.
São elas que preservam, com extraordinária força, práticas, rituais e saberes ancestrais, mantendo viva a identidade de seus povos.
O objetivo desse projeto é dar voz às suas histórias, revelando os diversos papéis que desempenham em suas comunidades e a força e coragem com que enfrentam a adversidade.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente estou trabalhando em um livro de Fotografia que apresentará tradições, costumes e mitos de povos originários do Lago Turkana e do Vale do Omo. Pretendo fotografar um total de 16 grupos étnicos que têm preservado com muita força sua ancestralidade.
As Grandes Guardiãs é outro projeto no qual estou trabalhando, ainda tenho muitas viagens a fazer para aumentar o número de etnias e mulheres fotografados. Esse projeto também se transformará em livro.


