O fotógrafo pernambucano Nivaldo Carvalho constrói uma obra que une ativismo social, experimentação visual e resgate da memória histórica. Radicado em Garanhuns, onde vive e trabalha, ele acumula 14 anos de trajetória fotográfica marcada por prêmios significativos – incluindo o Prêmio Pernambuco de Fotografia (2023/2024) e o Salão de Fotografia de Pernambuco (2025) – e por uma busca constante por “descobrir novos mundos” através das lentes. Sua prática fotográfica transcende o registro convencional, aproximando-se de uma abordagem experimental que questiona narrativas dominantes e dá visibilidade a histórias silenciadas.
Seu ensaio “Cidade em Cinzas“, finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é uma potente reflexão visual sobre as consequências dos processos de urbanização e o apagamento da história quilombola. Desenvolvido em 2024 nas ruas de Garanhuns com a participação performática do artista Daniel Luciano, o trabalho estabelece uma conexão visceral entre corpos e árvores – ambos “queimados” simbolicamente pelo esquecimento histórico. A série fotográfica, que também se transformou em filme disponível no YouTube, aborda o desaparecimento progressivo das árvores das calçadas urbanas como metáfora do apagamento dos povos tradicionais que resistem nas margens da cidade. Uma das imagens do projeto foi premiada no Salão de Fotografia de Pernambuco 2025 sob o tema da “contravisualidade”, consolidando a abordagem de Carvalho como forma de contestação das narrativas hegemônicas através da linguagem fotográfica.
Conheça mais sobre esta trajetória que une fotografia, performance e educação comunitária na entrevista que segue.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 41 anos e atualmente vivo em Pernambuco, morando na cidade de Garanhuns.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
São 14 anos de experiência com a fotografia. Desde o início, por volta de 2011, de forma amadora, até agora. A fotografia já me proporcionou 2 prêmios, o prêmio Pernambuco de fotografia (2023/2024) e prêmio do Salão de Fotografia de Pernambuco (2025). Este ano realizei a minha 3ª Exposição Fotográfica (frágil: manuseie com cuidado) e já participei de muitos festivais de fotografia no Brasil e tenho publicações em revistas e em Livros. A fotografia sempre me fascinou pela possibilidade de ‘descobertas de novos mundos’, de superar o que o olhar consegue capturar ou como forma de abordagem mais experimental do que estamos acostumados a ver.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
A série finalista do prêmio FotoDoc surge a partir da constatação das consequências dos processos de urbanização na Cidade, onde cada vez menos árvores são mantidas nas calçadas, ao mesmo tempo em que a história que envolve a fundação da cidade é esquecida. Sugerindo uma ligação fundamental entre corpos e árvores, o ensaio aborda o apagamento da história dos povos quilombolas, que vivem e resistem as margens da cidade, onde corpos/árvores são ‘queimados’, apagados, historicamente e as cinzas/memórias jogadas em ‘valas comuns’.
Todos os registros foram feitos nas ruas da Cidade de Garanhuns em 2024 e contou com a ação performática do Artista Daniel Luciano. Cidade em Cinzas também virou filme, lançado esse ano, e está disponível no Youtube. Acredito que a busca por um trabalho mais experimental, e um olhar para questões urgentes, foi o que possibilitou o resultado tanto na série fotográfica, quanto no filme. Uma das fotografias dessa série foi premiada no Salão de Fotografia de Pernambuco (2025) que abordou o tema da ‘contravisualidade’ como forma de contestação de narrativas dominantes. Esse projeto completo em breve deve ganhar uma Exposição fotográfica.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente tenho participado de um projeto de Oficina de Fotografia em Comunidades Quilombolas e Periféricas na Cidade de Garanhuns, de onde resultará duas exposições coletivas com estudantes da rede municipal de ensino, e estou na produção da minha próxima exposição fotográfica, uma exposição coletiva que envolve mais dois artistas, que ocorrerá em outubro na cidade de Recife. Acredito que em breve também estarei na produção de um fotolivro e pretendo realizar outra exposição fotográfica a partir do trabalho desenvolvido para a série Cidade em Cinzas, um trabalho que vai além da fotografia reunir outras linguagens como Performance e Audiovisual.
Também desenvolvo atividades contínuas no Núcleo de Audiovisual e de Artes Visuais do SESC Garanhuns por onde participo e realizo projetos nas duas áreas, a exemplo da Exposição Cinestesias (a ser realizada durante a III mostra Inhumas de Cinema) e a exposição coletiva Ciclos de Travessia para não caminhar Só que está atualmente no Centro Cultural SESC Garanhuns.
