Este projeto fotográfico foi desenvolvido na cidade histórica de Tiradentes, Minas Gerais, durante a Procissão de Corpus Christi, uma das manifestações religiosas mais tradicionais do calendário católico brasileiro. Em meio às ruas de pedra e à arquitetura barroca, a celebração transforma a cidade em um espaço simbólico de fé, memória e identidade coletiva.
A abordagem adotada ultrapassa o registro documental para se aproximar de uma linguagem autoral que busca transmitir não apenas a cena, mas também a atmosfera que a envolve. Por meio de jogos de luz e sombra, reflexos, movimentos intencionais e composições fragmentadas, as imagens revelam tanto o aspecto visível do rito quanto sua dimensão imaterial. O cortejo, os gestos de devoção, os símbolos litúrgicos e a interação entre fiéis e espaço urbano compõem uma narrativa visual que sugere transcendência e permanência.
A motivação central deste trabalho está em refletir sobre a força da tradição como elemento de coesão cultural. Fotografar Corpus Christi em Tiradentes significa registrar a continuidade de um patrimônio imaterial que atravessa séculos, resistindo às transformações sociais e mantendo vivo o elo entre passado e presente. A procissão é aqui entendida não apenas como ato litúrgico, mas como manifestação de pertencimento, identidade e resistência cultural.
No contexto de Tiradentes, onde o barroco mineiro se impõe como marca estética e histórica, a procissão assume um papel de atualização simbólica: reinscreve nas ruas, ano após ano, a herança de um povo que expressa sua fé de forma coletiva. Este ensaio, portanto, não se limita à documentação, mas propõe um olhar sobre a espiritualidade, a cultura e a memória que se encontram nesse ritual vivo e atemporal.








