Lençóis Maranhenses são paradoxo geográfico: deserto que vira arquipélago. Entre maio e outubro, 155 mil hectares de dunas brancas intercalam-se com lagoas temporárias que surgem, atingem profundidade máxima e evaporam em ciclos anuais. Este portfólio documenta a relação de escala entre corpos humanos e geografia monumental.
Fotografado entre 2023 e 2025, o projeto captura essa conexão através de perspectivas aéreas e horizontais. Dunas migram metros por dia. Lagoas mudam de cor conforme profundidade — verde-esmeralda indica 3 metros, bege claro revela areia visível através de lâmina d’água rasa. Pessoas atravessam, nadam, contemplam. Ocupam 0,0001% do quadro mas carregam 100% da consciência.
As doze imagens seguem progressão narrativa: contextualização (arquipélago infinito) → exploração (escala, profundidade, tempo) → abstração (padrões fractais, texturas) → jornada (solidão, movimento, encontro). A sequência final documenta 30 minutos reais: corpo aguardando pôr do sol, caminhando através de sombra projetada, encontrando calor radiante.
O mínimo mede o grandioso. O efêmero testemunha o transitório. Apenas humanos nomeiam: isto é duna, isto é lagoa, isto é belo. Paisagem permanece indiferente. Mas transformação é constante — de ambos.

Drone oblíquo, amanhecer. Corpos no topo de duna de 40 metros. Sombra azul é reflexo do céu em areia que não recebe sol direto. Contraste térmico: lado iluminado já atinge 28°C, sombra permanece a 18°C. O mínimo conquista a crista. O grandioso exibe geometria: luz separa mundos em dourado e azul. Física da cor codifica temperatura.
Lençóis Maranhenses.

Drone horizontal. Corpo parado entre dunas e lagoa. Sol nas costas projeta sombra de 7 metros — testemunha alongada de pausa contemplativa. Ondulações convergem para figura imóvel. O mínimo para. O grandioso continua: vento esculpe areia, lagoa evapora, sol desce 15° por hora. Consciência se reconhece minúscula diante de processos indiferentes. Pensar “sou nada” é paradoxo: apenas algo pensa. Paisagem não julga escala. Apenas existe.
Lençóis Maranhenses.

Foto de Drone a 90 graus para o solo. Linha diagonal separa mundos. De um lado, areia. Do outro, lagoa temporária. Dois corpos na borda. O mínimo (1,70m) navega o grandioso (155 mil hectares). Mas apenas o mínimo possui consciência da própria escala. Dunas não sabem que são imensas. Pessoas sabem que são pequenas. Quem mede quem?
Lençóis Maranhenses.

Foto de Drone a 90 graus para o solo. Cores não mentem: verde-esmeralda marca 3 metros de profundidade. Bege claro revela 30 centímetros — areia branca visível através da lâmina d’água. Sol a 60° de elevação penetra verticalmente, transformando lagoa em mapa batimétrico. Corpos flutuam onde a física permite: água rasa, temperatura 28°C. O mínimo navega o gradiente. O grandioso exibe suas camadas. Profundidade é informação codificada em cor.
Lençóis Maranhenses.

Foto de Drone a 90 graus para o solo. Corpos no topo da duna, olhando a lagoa circular 80 metros abaixo. Pegadas revelam: outros já desceram. A decisão é coletiva mas a descida será individual — areia fofa afunda até o tornozelo a cada passo. O mínimo se reúne antes de enfrentar o grandioso. Contemplação compartilhada diante de geometria perfeita. Lagoa não pede permissão. Apenas espera, indiferente, na base. Lençóis Maranhenses.

Foto de Drone a 90 graus para o solo. Lagoa em evaporação: 60% já seca, musgo e algas colonizam areia úmida. Tons dourados não são filtro — são oxidação de matéria orgânica sob sol. Dois corpos aproveitam os 40% restantes de água. O mínimo nada enquanto pode. O grandioso evapora 5 milímetros por dia. Em seis semanas, esta lagoa será apenas areia. Corpos efêmeros em geografia efêmera. Quem desaparece primeiro?
Lençóis Maranhenses.

Foto de Drone a 90 graus para o solo. Evaporação desenha canais de drenagem: padrões fractais que lembram veias, raízes, redes neurais. Espuma branca acumula-se onde água concentra matéria orgânica. Corpos cruzam a rede — invisíveis de 120 metros de altura. O mínimo se perde no padrão do grandioso. Geometria da natureza não precisa de testemunhas. Mas apenas testemunhas nomeiam: isto é rede, isto é vida, isto é belo.
Lençóis Maranhenses.

Corpo solitário caminha sobre crista de duna — cada passo afunda 15 centímetros na areia fofa. Ondulações desenhadas pelo vento marcam tempo: cada padrão leva 6 horas para se formar. O mínimo atravessa geometria esculpida pelo grandioso invisível. Vento não deixa testemunha. Apenas marcas que ele mesmo apaga. Corpo passa. Pegadas ficam por 2 horas. Depois: nada. Lençóis Maranhenses.

Foto de Drone a 90 graus para o solo. Não há lagoa. Não há duna. Apenas areia plana e vegetação resistente. Um corpo caminha sem destino aparente — aguarda o pôr do sol em 43 minutos. Sombra mede 6 metros: cinco vezes o tamanho do corpo que a projeta. O mínimo atravessa o vazio. O grandioso permanece indiferente. Tempo suspenso entre tarde e noite. Quem espera: corpo ou paisagem?
Lençóis Maranhenses.

Foto de Drone a 90 graus para o solo. Corpo reduzido a ponto laranja. Sombra mede 9 metros — cinco vezes maior que aquilo que a projeta. O mínimo expande através do que não é. Luz transforma matéria em ausência, presença em vazio alongado. Sombra não pensa. Mas ocupa mais espaço que consciência Paradoxo: o que existe menos domina mais. Paisagem não reconhece diferença.
Lençóis Maranhenses.

Drone alinhado à linha do horizonte. Sol a 5° de elevação abraça corpo solitário. Calor de 38°C + vento de 40km/h. O mínimo enfrenta o grandioso que queima a 5.778 Kelvin a 150 milhões de quilômetros. Radiação viaja 8 minutos até tocar pele. Corpo absorve. Corpo sente. Corpo testemunha. Mas quem abraça quem? Sol permanece indiferente. Apenas corpo nomeia isto: abraço, calor, encontro.
Lençóis Maranhenses.







