Aos 28 anos, a brasiliense Bruna Braz constrói uma trajetória fotográfica que une ativismo socioambiental, documentação cultural e descolonização de imaginários. Atuando como Analista Socioambiental no Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN) e fotógrafa autônoma, ela desenvolve um trabalho profundamente enraizado na defesa dos biomas brasileiros e dos povos tradicionais que os habitam. Sua lente – inicialmente influenciada pelas artes visuais e pelo desenho – transformou-se em ferramenta de visibilização de causas urgentes, sempre guiada pelo princípio de que a criação imagética é uma forma de disputar narrativas hegemônicas.
Sua imagem “Cerrado em Chamas“, finalista na categoria Imagem Destacada do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é um documento visceral sobre a devastação do Parque Nacional de Brasília. Registrada após os incêndios que consumiram mais de três mil hectares de Cerrado conservado em 2024, a fotografia captura a tragédia ambiental através de um filhote de anta avistado pela equipe de resgate de fauna – encontrado sem vida dias depois, com patas queimadas e danos por inalação de fumaça. Mais do que denúncia, a imagem sintetiza o compromisso de Bruna com a temática socioambiental, fruto de sua colaboração desde 2021 com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação em Biodiversidade (CBC/ICMBio). O trabalho expõe com crueza poética os impactos da ação humana nos ecossistemas, ecoando sua busca por fotografias que rompam idealizações românticas e mostrem a realidade nua e crua das feridas abertas no planeta.
Conheça mais sobre esta trajetória que une expedições, quilombos e a defesa do Cerrado na entrevista que segue.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 28 anos, vivo em Brasília e trabalho no Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN), onde atuo como Analista Socioambiental e eventualmente colaboro como Fotógrafa. Também atuo enquanto fotógrafa autônoma em projetos e eventos culturais. Além disso, realizo projetos fotográficos autorais de forma independente.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
O interesse pela fotografia surge a partir da conexão com as artes visuais, já que estudei desenho por alguns anos. A fotografia chegou na minha trajetória profissional em 2019, momento em que me envolvi mais profundamente com projetos socioambientais. Portanto, desde o princípio tive como foco a fotografia documental de povos, comunidades tradicionais e biomas. Desde então tive a oportunidade de fotografar na Amazônia, Cerrado e Caatinga em diversos locais e contextos. Dentre eles, destaco a produção fotográfica que tenho desenvolvido no Quilombo Kalunga (Goiás), o maior território quilombola do Brasil, onde atuo desde 2021. Ali tenho construído uma relação de confiança com as pessoas e tenho aprofundado o entendimento sobre a cultura local e sobre o território.
A fotografia é, para mim, uma ferramenta de encantamento, descolonização de imaginários e visibilização de temas importantes. Acredito que a criação imagética é também uma forma de disputar narrativas e de desconstruir estereótipos e visões hegemônicas sobre povos e comunidades tradicionais. Atualmente tenho me interessado em produzir imagens que mostram o diálogo entre tradição e contemporaneidade, quebrando idealizações românticas e colonizadoras sobre povos e culturas.
Para mim, a fotografia é um instrumento de luta e de conexão com a terra, com a espiritualidade e com pessoas que guardam saberes ancestrais. Por isso fotografar me inspira muito, já que é um exercício de presença e escuta, e é também uma oportunidade de troca e aprendizado.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
A foto foi realizada após os incêndios no Parque Nacional de Brasília, que consumiram mais de três mil hectares de áreas de Cerrado conservado em 2024, causando danos à fauna e à flora local. Na foto, um filhote de anta avistado pela equipe de resgate de fauna em área de Cerrado queimado. O filhote foi encontrado sem vida dias depois, com patas queimadas e danos físicos por inalação de fumaça.
Desde 2021 colaboro com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação em Biodiversidade e Restauração Ecológica – CBC/ICMBio, cuja sede fica dentro do Parque Nacional de Brasília. A partir dessa relação profissional anterior, pude registrar os danos dos incêndios no local, expondo a partir da fotografia os impacts na flora e na fauna. Portanto, esse trabalho dialoga com a minha trajetória profissional, que está sempre conectada com a temática socioambiental.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente tenho realizado registros documentais em expedições de campo, como por exemplo em comunidades agricultoras e sítios arqueológicos no Piauí (agosto) e no Quilombo Kalunga em Goiás (julho). Além disso, sempre acompanho eventos importantes conectados à pauta socioambiental, como por exemplo a Marcha das Mulheres Indígenas realizada em agosto deste ano em Brasília. Nos próximos meses irei em expedição a Bahia, Minas Gerais e Pernambuco, onde terei a oportunidade de fotografar povos, comunidades tradicionais e paisagens naturais em parceria com o ISPN.
Também tenho trabalhado em um projeto fotográfico autoral sobre o Varjão, bairro periférico do Distrito Federal que se relaciona com fragmentos conservados de Cerrado no meio urbano.