Oito anos depois de caminhar por Zumbahua, Equador, decidi revisitar e reeditar essas imagens com um novo olhar — mais maduro, porém mais inquieto. Abrir uma janela no tempo, olhar para um passado não tão distante e, no entanto, tão mais palpável e concreto que esse futuro incerto e sombrio que se avizinha no horizonte (angustia do zeitgeist?). Em meio às guerras, às fronteiras em disputa e a um presente saturado de notícias, esses retratos ganham ainda mais sentido: são pequenos gestos de permanência.
Este ensaio é um tributo à presença e à resistência das mulheres andinas, que carregam séculos nas costas e ainda assim seguem em frente com sua alegria — hay que arrancar alegría al futuro. Seus modos de fazer e ser atravessam o tempo: as roupas coloridas, as tradições, o cotidiano que se entrelaça, quase sem alarde, com a tecnologia que chega às suas mãos e territórios, prometendo um futuro “melhor”. O passado e o presente colidem, convivem, dançam (?).
O ensaio se abre na praça, onde a vida pulsa colorida e ancestral. As ruas, o mercado, os corpos, os alimentos — tudo respira história e continuidade. Aos poucos, o olhar se aproxima e descobre as mulheres no centro dessa engrenagem silenciosa: vendendo, organizando, existindo. Suas roupas carregam tradição, seus gestos, a força cotidiana de quem sustenta o visível e o invisível. A série termina no campo aberto, onde as montanhas vigiam e as mulheres lavram a terra — território que, por costume, caberia aos homens. Mas elas estão ali, centrais.