“Ficção Científica” é um ensaio visual que tensiona os limites entre o real e o especulativo, entre o documental e o simbólico. A obra parte de um procedimento técnico — a sobreposição de radiografias e fotografias de um mesmo corpo — para construir imagens híbridas que operam como cartografias subjetivas. Mais do que representar o corpo, o projeto o transforma em um campo expandido de investigação sobre o tempo, o desejo e as formas de existência no presente.
A escolha por utilizar radiografias — registros clínicos do invisível — associadas a retratos fotográficos — vestígios da aparência — propõe uma reflexão sobre a relação entre forma e interioridade, sobre o visível e o latente. Nesse jogo entre transparência e opacidade, o ensaio cria uma poética visual que convoca o espectador a reimaginar o corpo como território simbólico, atravessado por redes afetivas, sociais e políticas.
Embora essas imagens tenham sido produzidas um pouco antes, “Ficção Científica” amadureceu conceitualmente no contexto da formação artística do autor, concluída em 2025 na UERJ, e situa-se no cruzamento entre fotografia expandida, arte contemporânea e crítica. O projeto articula um olhar que busca, nas fissuras da realidade, os rastros de futuros possíveis, construindo uma narrativa especulativa a partir das tensões do agora.
Sua pertinência no contexto do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025 se dá justamente pela sua potência crítica e formal. Ao explorar a fotografia como linguagem em transformação — atravessada pela materialidade, pela memória e pela ficção —, o trabalho se alinha às práticas que desafiam o campo documental clássico e propõem novas formas de olhar e narrar o mundo. É uma contribuição autoral e consistente ao debate sobre o papel da imagem no enfrentamento das crises contemporâneas e na elaboração de imaginários alternativos.
As imagens da série foram construídas a partir da sobreposição digital de radiografias e fotografias digitais de um mesmo corpo. As radiografias foram previamente digitalizadas e as fotografias produzidas com câmera digital. A fusão das imagens foi realizada no Photoshop, por meio de técnicas de transparência, mesclagem de camadas e ajustes cromáticos. Embora tenham sido aplicados filtros e recursos visuais, não houve alterações significativas na forma original das imagens. O objetivo foi criar uma composição simbólica e especulativa a partir de materiais reais – o corpo fotografado por dentro e por fora -, mantendo a integridade visual dos elementos documentais envolvidos.