Este ensaio nasceu da escuta, e da sensibilidade .É fruto de uma expedição fotográfica na Bahia, onde fui acolhida por um casal indígena Pataxó em sua casa, na Aldeia Velha, em Porto Seguro — território ancestral que respira história, cultura viva e resistência.
Durante os dias em que permaneci na aldeia, em Arraial d’Ajuda, fui mais do que fotógrafa. Fui hóspede, ouvinte, aprendiz. Compartilhamos o cotidiano, as refeições, as histórias e os silêncios. Observei o ritmo da floresta, a leveza dos gestos, a firmeza dos rituais. O que busquei com minha lente não foi apenas capturar imagens bonitas — mas traduzir uma relação profunda entre território, corpo e espírito.
Minha trajetória com a fotografia indígena não começou ali. Há quatro anos, escolhi esse caminho como forma de ativismo. Levo a câmera como extensão do meu corpo político, como ferramenta de denúncia, memória e reverência. Já estive em manifestações com os povos originários nas ruas, e em aldeias espalhadas por vários cantos do Brasil — sempre com o compromisso ético de caminhar junto, e não à frente.
Neste ensaio, cada imagem é um manifesto. A ternura da família Pataxó, o sorriso da criança com cocar, a força ancestral da mulher com flor, o toque cuidadoso no cavalo… tudo isso é território. E território não é só um pedaço de terra: é vida em continuidade, é lar que sustenta cultura, espiritualidade e futuro.
A fotografia aqui é ponte. É memória viva. É escudo e é semente. Porque em tempos de avanço sobre os corpos e as terras dos povos originários, reafirmar suas presenças é um ato político.
E como me disseram uma vez em uma roda de conversa indígena: “Nós somos a terra. E quando atacam a terra, estão nos atacando.”
Este ensaio de uma família Pataxó é a resistência de um povo inteiro.
É uma resposta amorosa e firme ao ataque contra suas terras e famílias. Porque território demarcado é esperança de vida.
E o povo Pataxó é raiz que não se arranca.






