O presente ensaio foi realizado em um acampamento de bérberes semi-nômades, próximo à Goulmima, oásis da região do Médio Atlas, no Marrocos. Durante alguns dias acompanhei o cotidiano dessa larga familia: o abate e preparação de uma cabra do rebanho, a partilha do chá, o retorno do rebanho de dromedários, o preparo do forno para assar o pão ao amanhecer, a ração de tâmaras secas fornecidas aos dromedários antes da partida às pastagens, a contagem dos rebanhos de ovelhas e cabras, o modo de vida sóbrio e austero de homens e mulheres nessas terras pedregosas e ressequidas de cor ocre, sujeitos aos ciclos de uma natureza cada vez mais hostil e imprevisível.
Os bérberes são habitantes dessas terras antes mesmo da chegada dos árabes. Muitas tribos são sedentárias: desenvolvem a agricultura nos oásis e o comércio nas cidades. Outras tribos são nômades ou semi-nômades, se instalam próximo às montanhas e desenvolvem principalmente o pastorio, com seus rebanhos diversificados para melhor resistirem ao bioma árido.