Este ensaio fotográfico documenta o primeiro encontro de uma companhia teatral brasileira formada por pessoas de múltiplas origens sociais, étnicas e de gênero, com significativa presença de integrantes da comunidade queer. A série registra dinâmicas de aproximação, escuta e criação coletiva durante o processo inicial de construção dramatúrgica colaborativa, revelando como o teatro contemporâneo se constitui como espaço de resistência cultural no Brasil.
As imagens capturam momentos liminares onde identidades individuais e coletivas se negociam através do corpo, do gesto e da ocupação do espaço teatral. O trabalho se insere na tradição da antropologia visual que utiliza a fotografia como ferramenta etnográfica para compreender práticas culturais e processos de formação de grupos. Ao documentar este encontro inaugural, as fotografias revelam como diferenças sociais são negociadas no espaço performático, evidenciando o teatro como território de experimentação identitária e construção comunitária.
A série questiona quem tem direito ao palco, à visibilidade e à construção de narrativas próprias no contexto brasileiro contemporâneo. Ao fotografar estes interstícios – entre bastidores e performance, entre isolamento e comunidade, entre o individual e o coletivo – busco iluminar processos de formação grupal onde a diversidade se torna motor de criação e afirmação existencial, dialogando diretamente com estudos antropológicos sobre liminaridade, performance cultural e formação de comunidades.
Do ponto de vista político, o trabalho documenta não apenas um processo artístico, mas atos de resistência cultural em um contexto onde corpos dissidentes enfrentam crescente hostilidade no Brasil. As fotografias funcionam como registros visuais colaborativos que revelam como arte e política se entrelaçam na construção de espaços alternativos de sociabilidade, onde diferenças são celebradas e transformadas em potência criativa coletiva.