Neste ensaio mostro uma coleção de memórias por mim colecionadas ao longo dos anos últimos 12 anos. São pessoas e objetos os quais encontrei em diferentes lugares e momentos da minha trajetória e que compõem uma espécie de fotografia afetiva das relações humanas cotidianas e aleatórias. As pessoas retratadas nesta série são indivíduos particulares que representam seres universais que poderiam estar em qualquer cidade contemporânea. Citando o curador Eder Chiodetto, “Os passantes flagrados pelas ruas do mundo, bem como esses ready-mades detectados com humor e afeto por Josiane, tiveram seus fundos eclipsados. Agora, ambos vagam à deriva na expectativa de um novo território. Os gestos das pessoas flagradas de costas ensejam uma coreografia, um deslocamento para algum espaço indeterminado. Os objetos ordinários — em geral, desimportantes e quase invisíveis — transmutam-se em preciosos relicários.”
Sobre os objetos, eles também carregam memórias e contam uma história, assim como os nomes que os nomeiam. Todos carregamos fragmentos de memórias que colecionamos e armazenamos durante o período de nossas vidas. Algumas são nítidas e bem localizadas, sabemos (ou pensamos que sabemos) exatamente de onde as coletamos. Elas têm cheiro, forma e presença. Outras são tênues e fugazes, e assim como aparecem, desaparecem . As memórias fazem parte da nossa existência e da construção das nossas narrativas. Algumas são tão antigas quanto nós, outras acabaram de chegar e estão se incorporando à nossa história.
Esta série fala da história das nossas andanças, de pessoas que encontramos e de lugares onde estivemos e que carregamos conosco. São memórias aleatórias e portáteis mas que, de certa forma, conosco se relacionam. Cada pessoa fotografada, cada objeto, pode se tornar um portal e nos levar para algum lugar. Por onde andou o nosso olhar? Para onde essas memórias nos levam? São questões que abordam o conceito de presença e ausência, de tempo e espaço. Essas memórias ou lembranças são como retalhos costurados, talvez aleatoriamente, das nossas vivências, das nossas narrativas. Cada imagem fotografada e reproduzida se junta a outras para compor essa miriade de memórias das quais somos todos feitos. Algumas são transitivas e claras, outras intransitivas, quase abstratas.
Memórias podem ser voláteis e sorrateiras ou perenes e recorrentes. Nem todas são bem vindas. Algumas são absolutamente necessárias à nossa jornada, pois nos reconectam de alguma forma; outras queremos extirpar, mandá-las para o esquecimento. Fotografar uma memória é incorporá-la de vez ao nosso repertório. É dominá-la e decidir quando e como queremos revê-la, senti-la, possuí-la. É defini-la temporalmente e materialmente. Isso poder nos trazer conforto e. de certa forma, nos levar para lugares onde queremos estar.