Em meio às luzes pulsantes e ao cheiro espesso da noite de Bangkok, um ringue brilha sob os refletores de um prostíbulo chamado Pink Panther. Estamos no coração de Patpong — um bairro que respira o paradoxo entre tradição e espetáculo, espiritualidade e consumo.
Ali, onde outrora corpos dançavam sobre o metal frio de um pole dance, dois homens se enfrentam em uma luta de muay thai. Não é apenas um combate físico. É a encenação de um legado milenar, esvaziado de sua ancestralidade e oferecido ao olhar estrangeiro como exótico entretenimento.
Turistas se aglomeram ao redor do ringue, entre apostas e risos fáceis, hipnotizados por uma violência que já não pertence a eles. O que para alguns é folclore, para outros é sobrevivência. Os lutadores — homens comuns, com corpos marcados pelo esforço — se enfrentam sob os olhares curiosos de uma plateia que jamais compreenderá o peso simbólico de cada golpe.
Essa série de imagens é um testemunho silencioso de um contraste brutal: o sagrado e o banal, o ritual e o espetáculo, o suor e o neon. Em Patpong, o muay thai — orgulho e essência da cultura tailandesa — é reencenado em um cenário de marginalidade, transformado em moeda, esvaziado de seu espírito original.
Fotografar ali é tentar revelar o invisível: a dignidade que insiste em sobreviver mesmo quando tudo ao redor parece torná-la espetáculo. É olhar com respeito para o humano, mesmo quando o mundo ao redor insiste em transformar tudo em mercadoria.