Na zona rural de Feira Nova, no agreste de Pernambuco, vive Josemir Firmino, pescador que aprendeu a dialogar com as águas da barragem que banha seu quintal. Através do ofício da pesca, ele sustenta sua família e mantém viva a relação ancestral entre o homem, a natureza e o tempo.
Esse ensaio busca retratar não apenas o trabalho, mas a calma, a persistência e a dignidade do pescador nordestino.
Em seu terreno, também resiste uma das últimas casas de taipa da região – testemunha silenciosa de uma história que insiste em permanecer de pé.
Aqui, o cotidiano é resistência, e a paisagem, poesia.

(Foto de Josemir remando na canoa verde)
josemir segue em seu barco habitual, cortando as águas que conhece como a palma da mão, navegando entre as árvores que agora brotam onde antes só havia terra. Falo do seu quintal, porque ele tem um grande rio e uma barragem ali, e é essa paisagem que ele vê ao acordar, todos os dias, enquanto cumpre seu ofício de pescador.

O gesto do pescador em pleno voo da tarrafa captura mais que peixes: revela o movimento poético de um ofício aprendido no corpo. Mesmo quando a rede volta vazia, o gesto permanece cheio de história.

Na barragem onde vive, Josemir enfrenta uma vegetação aquática chamada de “coento” pelos locais, que atrapalha a pesca e se espalha como uma praga. É o desafio invisível que torna o sustento incerto, mesmo quando o rio parece generoso.

Ao final de mais um dia de pesca, Josemir segura a rede ainda molhada. O olhar firme e sereno atravessa a lente: é o retrato de quem aprendeu a conviver com o ritmo da natureza.

No alpendre de casa, o pescador observa a barragem ao entardecer. A cena é de descanso, mas também de reflexão. O homem e a paisagem parecem se reconhecer.

O sol se despede atrás das margens da barragem. Árvores submersas e o silêncio da cena encerram o ciclo de um dia no Agreste, onde o tempo corre diferente e a luz carrega histórias.