A queda do Guapuruvu aconteceu numa manhã qualquer. Era uma árvore que eu atravessava todos os dias: sombra, flor, rotina.
Quando vi o tronco rachado no chão, o impacto foi duplo. A árvore tinha tombado, e eu também. O colapso dela devolveu o meu. Naquele instante, entendi que a ferida do mundo e a minha falavam a mesma língua.
Aproximar o corpo dos galhos se tornou um gesto de reconhecimento: o que tombou lá fora também ruía aqui dentro. Essas imagens nasceram do encontro entre duas quedas – a da árvore e a minha – e da tentativa de permanecer de pé, mesmo quando a paisagem que sustentava o cotidiano deixou de existir.
Ao tocar a casca, ao deixar que os ramos desenhassem a pele, procurei uma forma de costurar aquilo que a ruptura tinha aberto. A árvore não voltaria a florescer. Eu, talvez, sim. Mas teria que aprender a reerguer o corpo sem a sombra que me acompanhou por tantos anos.
Este portfólio é o registro desse intervalo: entre o que cai e o que continua.
Leandro Selister
Dezembro 2025








