Eu sempre começo observando os detalhes, depois percebo as conexões sutis entre eles: a luz atravessando o vidro e refletindo na minha mão, as formigas correndo em direção ao doce esquecido sobre a mesa por pura preguiça minha, o gato selvagem que salta na esquina e se assusta comigo, a manhã de dezoito graus abaixo de zero, e o instante em que saio de casa e sinto os pelos do nariz congelarem no ar gelado.
O olhar trocado com uma vaca, o impulso mútuo de devorar um ao outro durante um beijo, o brilho de lágrimas nos olhos da família no momento da despedida.
Ainda me lembro, quando criança, de uma tarde entediante no jardim da fábrica, em que minha mãe apareceu com um pacote de pudins de fruta para me fazer companhia. Ao lembrar dessa cena, me pergunto com frequência: aquele menino sentado nos degraus ainda pode ser considerado eu?
Estamos em tempos diferentes, mas talvez uma parte de mim ainda permaneça naquele instante banhado de sol.