Música e esperança é meu projeto de longa duração, que traz uma reflexão sobre pessoas relacionadas à música, no sul do Brasil, através de fotografias e de entrevistas. O projeto teve início em 2018. Até o momento, conta com a participação de 86 pessoas de diversas faixas etárias, gêneros, culturas e áreas de atividade musical.
As imagens são resultado de encontros únicos com pessoas que se abriram genuinamente para me fazer parte do seu mundo e da sua beleza. Em nossos convívios, senti a verdade das suas experiências e aprendi sobre o pensamento em suas histórias de origem. O trabalho gerou narrativas visuais que abordam dor, força, felicidade, resiliência, ancestralidade, empoderamento feminino, autoconhecimento, inserção social e expressão, na pluralidade da identidade.
Na busca pelo sentido, encontrei encanto e magia. Cada pessoa e cada estrela tão únicas; ainda assim, com uma ética comum, precisamente o que voltou minha atenção para a noção de esperança. Esperança é uma postura que aponta para o futuro e remete a uma vida melhor. Passei a acreditar que a música é uma janela para o espaço de reencantar o mundo.
E, nesse espaço, regendo o dia e a noite, as estrelas. Em uma abordagem multidisciplinar que aproxima história de vida, arte e cultura, Música e esperança inspira profundidade e intimidade em minha abordagem ao retrato. Projeto: Música e esperança. Conceito, desenvolvimento, fotografias e entrevistas: Denise Amon. Curadoria: Tiago Coelho. Site:
https://projectmusicandhope.46graus.com/

Dona Ivone Pacheco é pianista. Aos 50 anos, abriu o porão de sua casa para jam sessions convidando outros músicos e amigos. Assim nasceu o Clube de Jazz Take Five, que há 43 anos é um espaço de música e de descoberta de novos talentos. O endereço é mantido em segredo, mas quem conhece sabe onde e quando ir. Para ela, a inauguração do porão significou uma nova vida além de lecionar e de ser esposa e mãe. Quando fiz esta foto da Dama do Jazz, ela tinha 85 anos. Ela agora tem 92 e não pode mais participar dos encontros. (Fotografia feita em 15 de junho de 2018.)

Jessie Jazz é compositora, multi-instrumentista e vocalista. Ela representa a comunidade LGBTQIAPN+. Gosta de observar o comportamento humano e de escrever um resumo em forma de poesia para as pessoas cantarem. Através de sua música, quer ampliar horizontes. Ela é a personificação do empoderamento feminino, do autoconhecimento e da liberdade de expressão, em harmonia com a leveza e a esperança de uma vida melhor. (Fotografia feita em 20 de julho de 2023.)

Edu Meirelles é músico, compositor e “cantautor”. Ser músico foi um caminho natural que aceitou de coração. Ele se vê como um contador de histórias; os instrumentos musicais são suas ferramentas. Acredita que a música é a pedra fundamental de onde emanam as coisas e as conexões. Como a religião, é uma ligação direta com o divino. (Fotografia feita em 21 de janeiro de 2025.)

Mestra Alexsandra Amaral é a primeira mulher brasileira a se tornar Mestra de Bateria de Escola de Samba, em um campo eminentemente masculino. É percussionista e arranjadora musical. Pensa nos tambores como força da natureza, rituais africanos e coletividade. É isso que quer homenagear com sua música. Pediu para ser fotografada com tranças, honrando sua identidade: “As minhas tranças são a minha raiz”, disse, “significam resistência e liberdade.” (Fotografia feita em 31 de março de 2023.)

Mestre Camisa é ritmista, Mestre de Bateria da Sociedade Recreativa Beneficiente Tribo Carnavalesca Os Comanches, fundada em 1959, em Porto Alegre, Brasil. Aprendeu música pela experiência tocando em latas de azeite. Aos 12 anos ingressou nesta tribo indígena. É a única tribo carnavalesca que sobreviveu. Encarna todas as demais, mantendo a história e a tradição das tribos no Carnaval, significando resistência. Mestre Camisa, para quem a música é uma alegria tremenda, reflete a comunidade. (Fotografia feita em 31 de outubro de 2023.)

Semíramis Gorini é cantora. Nasceu em uma família musical e ama jazz desde a infância. Graduou-se em Historia Natural e trabalhou como professora. O caminho para se tornar uma cantora não foi planejado; desde que iniciou, nunca mais parou. Acha que a música é alimento para o espírito, para a vida. Não consegue pensar em viver sem música. (Fotografia feita em 10 de novembro de 2023.)

Oderiê Chayúa são multiartista, Indígena Charrua, trans não binário. Sua arte é um manifesto contra o apagamento e o silenciamento das identidades negras e indígenas, os efeitos do colonialismo, do racismo e da transfobia. Valorizam a ancestralidade, o bom caminho e o bem viver. Acreditam que a música é uma maravilha que expressa o estado mais elevado da Criação. É algo sagrado, encantado, mágico. Os bordados na roupa que vestem contam memórias suas e do seu povo. (Fotografia feita em 13 de agosto de 2024.)

Dundi Electric Yesomar é compositor. É uma alma visceral em movimento, uma mente polifônica de alta energia. “A música já é a gente”, disse. Identidade e expressão fundem-se na crença de que o amor nos une com a arte. Sua entrega despida é como uma massa de sentidos e de luz, transcende o simbolismo das palavras. Entre frases, melodias e sons que ecoam como um coral, compõe cenas com o que vem de dentro, de passagem rápida, performativas, criando imagens de exatidão poética e expondo uma verdade além. (Fotografia feita em 23 de Fevereiro de 2025.)

Ricardo A. Arnt é cirurgião plástico. Toca e constrói instrumentos da família do alaúde. Na pandemia da Covid-19, encontrou paz ao terminar um alaúde iniciado em 2018. Deu- lhe o nome de Quarentena. Escreveu dentro a Stella Maris Exstirpavit, oração medieval contra a peste. O nome e a oração que Ricardo sempre escreve são a alma que dá aos instrumentos, no seu legado para o futuro. Ele acha que boa música eleva o espírito à transcendência. (Fotografia feita em 28 de julho de 2022.)

Bruna Paulin é multiartista, pesquisadora musical e comunicadora. A música permeia sua vida desde a infância, é presença forte em sua casa e está no centro de suas atividades profissionais. “Eu não existo sem música”, disse. A música é seu combustível, sua forma de viver; onde procura respostas, onde cura, onde renova sua fé. É sua espiritualidade. (Fotografia feita em 17 de dezembro de 2024.)

zilladxg é MC, beatmaker, DJ e produtor cultural. Quando adolescente, apaixonou-se pelo rap e começou a escrever músicas até ser aceito em uma banda. Veio o asfalto na sua rua e, com ele, o skate. Mas o asfalto não cobria a rua toda e, para poder andar, zilladxg e seus amigos exploraram outros bairros, levando junto o rap. Fugiam da realidade dos subúrbios: drogas, crime, pobreza. O rap e o skate foram os marcos que mudaram sua vida. Música é refúgio, é trilha sonora dos seus dias. (Fotografia feita em 1 de novembro de 2023.)

Fernando Cordella é cravista e maestro, diretor artístico da Bach Society Brasil. Há muito tem a imagem de J. S. Bach como alguém que estendeu a mão para o universo e trouxe algo de volta para nós. A vibração com os ornamentos, o gosto pela improvisação, o senso de liberdade da interpretação criativa e o profundo respeito ao texto musical barroco estão no centro de sua atividade. Música é tudo. (Fotografia feita em 26 de março de 2025.)

Bolívar Gomes é multi-artista e curandeiro do som. A arte e a ligação com a natureza são modos da sua expressão. Trabalha no universo da música sagrada, música de cura e de conexão espiritual. Sente o som como veículo condutor de intenção e de energia transformadora, que transporta para qualquer tempo e espaço, para estados internos de emoções e de sensorialidades. Sua voz calma e terna soa como um rezo. (Fotografia feita em 24 de fevereiro de 2025.)

Max Sudbrack é pianista e compositor. Abandonou o clássico para tocar jazz e rock. A vida com as bandas levou a uma vida não saudável. Estabeleceu uma distinção: música é religião, é sagrada, faz bem para as pessoas; a carreira musical pode ser mortal. Ele sente que o melhor combustível para a arte é a dor. Lançou o livro O Triângulo da Morte, autoajuda e autobiografia. Max é uma pessoa pura. (Fotografia feita em 28 de julho de 2022.)