Neste ensaio fotográfico, realizado no âmbito do programa de Residência Artística do Pico do Refúgio (Ilha de São Miguel, Açores) o olhar se volta para além dos estigmas que acompanham a vila açoriana de Rabo de Peixe. Através das lentes, revela-se a beleza que pulsa entre redes e marés: o trabalho digno e resiliente dos pescadores, a singeleza das rotinas e a autenticidade de seus moradores.
Entre esses rostos está Dona Deolinda, que, juntamente com o marido — já falecido —, trabalhou por mais de quarenta anos na pesca. Como tantas outras mulheres, ela desafiou os costumes da vila, exercendo sua força silenciosa em um ofício que, por muito tempo, foi “mal-visto” para mulheres.
O ensaio também se entrelaça com momentos de celebração, como o carnaval vivido ao lado de uma dezena de crianças mascaradas, exultantes de alegria. Por fim, o ensaio testemunha o espetáculo ancestral da pesca de lulas com linha de mão — uma dança entre homem e mar, orquestrada por Seu Domingos Vieira e executada com apuro por seus filhos, genros e netos, sob a silenciosa proteção de Iemanjá.
Rabo de Peixe é um mergulho sensível na alma de uma comunidade muitas vezes incompreendida. Em cada rosto, gesto e tradição, há resistência, poesia e pertencimento. É um convite a enxergar a vila de Rabo de Peixe com novos olhos — olhos que reconhecem beleza dessa pequena vila esquecida no meio do Oceano Atlântico.