Rescaldo nasceu das minhas inquietações diante das queimadas e da poluição do ar durante os meses mais secos de 2024. Foram dias sufocantes: céu tomado por fumaça, sol vermelho, calor opressivo. No meio desse clima inóspito — em que era impossível ignorar a crise ambiental — havia também o desafio de produzir uma série para o curso “Artesanias na Fotografia”, com Jacqueline Hoofendy.
Queria um trabalho que denunciasse, mas também expressasse cuidado. Foi aí que surgiu a ideia da gaze — tecido associado ao tratamento de feridas. A virada aconteceu ao presenciar uma queimada na Estrada Real, entre Santa Cruz e Tiradentes (MG). Aquela paisagem destruída era o sinal que faltava.
A série passou a falar do que sobra depois do fogo. Do rescaldo literal — brasas, fuligem, marcas — e simbólico: o que ainda queima quando o fogo já se apagou. Comecei a intervir com gaze, depois com fogo. Misturei o documental com o poético, o visível com o sensível. Rescaldo é sobre restos, sobre cuidado, sobre um planeta em estado de alerta. É uma tentativa de dizer, com imagens e afeto, que não dá mais para negar a emergência climática.




